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Mostrando postagens de 2021

Pós

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Wilton Cardoso · pos2.ogg Eu  Não estou pós-moderno, Eu sou pós-moderno, Completamente abduzido, ab- Sorvido no entretenimento fútil da vida contemporânea, Não tenho paciência para a declamação do poema, Nem mesmo na voz irônica do Abujamra. Não sou mais irônico nem fragmentado, Sou cínico, A fragmentação em Pessoa, Quebra essencial, Caco de um vaso que não houve, Não tenho paciência de atravessar romances, Quero apenas ficção científica nas telas. Apocalipse zumbi, Se o capitalismo é um beco sem saída Suicida, Que o mundo acabe então  Pela mão invisível do Deus, Cansei de imaginar utopias, buscar outras vidas, Meu bem, Enquanto o mundo não acaba Vamos gastar, beber, dançar como loucos à beira do abismo. Não tenho paciência para um vinil, Eu quero três minutos de música ou menos, Aquele pedaço viciante da canção, Alívio imediato, a cena de impacto, Pensar apenas no próximo Negócio, festa, viagem, transe ou transa. Viver sou eu Gozar agora e esquecer Ontem, amanhã, os outros, o mundo

Narciso (mise en abyme)

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viv eu ou si perd eu em sonhos acor dados em des acordo com a v ida con creta ícaro em fuga aluci nada em que da livr e se des pedaç ando no abis into voo látil de um sí sifo in saci áve l  

há galáxias

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a poesia se perdeu o poeta não existiu ninguém leu há galáxias inscritas no vazio a brilhar no céu       a poesia se perdeu o poema não existiu ninguém leu há galáxias perdidas no vazio a brilhar no céu

O engenheiro onírico

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Quando eu era menino, adorava brincar de carrinho.  Então, construía estradas, pontes, estacionamentos, postos,  calçadas e ruas, tudo muito rudimentar, a imaginação é que sofisticava a obra.  No meu sonho de olhos abertos  aquele pequeno e tosco universo ganhava detalhes, se movia, funcionava  que nem uma cidade, melhor ainda,  uma ultracidade cheia de Graça e Vida.  Eram horas e horas absorto no parto  de um mundo que se fazia  com a terra vermelha do quintal  e o cimento da fantasia.  Depois que tudo estava pronto,  finalmente chegara o grande momento  de brincar de carrinho, de imitar os adultos  na faina diária, brincar de viver, de ser  gente grande de verdade!  Mas como era chato! Não havia mais nada  para se construir no chão do quintal  nem nas nuvens da minha cabeça, avoada desde aquele tempo.  Eu nunca gostei de brincar de carrinho,  eu queria mesmo era construir caminhos,  estradas de terra  para longe daqui, estradas de sonho para o sem fim de mim. (Mas eu queria muito gos

Efemérides

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o choque de bilhões de sóis       e anos-luz       de duas galáxias remotas a batalha das migalhas        das baratas na cozinha a odisseia existencial do artista a luta cotidiana as pessoas comuns a curva da vida o caminho místico do herói os podres de ricos os pobres diabos os remediados todo mundo é um herói cada ser sua épica cada ente um universo cada rês o Umbigo do mundo   e o cosmo desumbigado esparramado no éter engole as reses todas em sua bocarra       de eras e alqueires sem fim como a baleia azul aspira o plâncton sem saber dos risos e calos de cada bicho do belo Umbigo de cada bicho sem saber     nem mesmo     de sua infinita potência de cosmo a engolir os ínfimos ciscos      efêmeros      que somos nós

Filosofias do hippie veio

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Eu conheci um velho vagabundo que andava por aí sem querer parar. Quando parava, ele dizia a todos que o seu coração ainda rolava pelo mundo.  (Sá, Rodrix e Guarabyra) Quem diz que gosta de trabalhar:  Tá mentindo pra fazer bonito, tá mentindo pra ele mesmo ou é desinquieto de natureza e trampa pra aliviar.  De todo jeito tá doente bicho, fudidão, dodói demais da cabeça, fatigado do corpo e desinfeliz do coração, coitado. *** Eu num tenho pressa de chegar.  Nem hora de chegar.  Num tenho nem aonde chegar.  Na real bicho, eu nem sei o que é chegar! *** Que hora é agora? Ué! Hora de descansar *** Onde eu moro?  Em riba das butina. *** De bicho eu gosto é do gato, bicho.  Aí, toda hora é hora do bichano puxar uma palha. *** Duas coisa que me tira do sério:  trabalhar em casa e trabalhar fora de casa. *** O que que eu quero pra vida daqui 10 anos?  Bicho, num sei nem onde eu vou tá daqui 10 dias! *** Eu sou é rico demais. Tenho toda estrada do mundo.  Quer mais? Todo tempo, todo vento, t

Xepa geral

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O mundo em clima de xepa De feira fim de festa Tempestades de raiva No calor infernal das cidades O mundo que resta é rio quebradiço Sem fonte ou sentido de mar Marquises desabam Nas calçadas da feira Nas cabeças que passam Uma leve lembrança Um paraíso esquecido um sabor de niilismo Na maçã do rancor Caída Entre barracas e moscas Rolando lambuzada Num apocalipse de piche Xepa do mundo fim de feira Reses caídas Nas grotas de algoritmos Ao ritmo das vitrines Reses perdidas No labirinto de espelhos das trocas De olhares moedas e modas Narciso surdo narciso Narciso surdo e cego Narciso despenca um mundo De água e você vidrado No espelho quebrado da fonte Que não existe mais Ou houve somente em eco? Fonte arrastada no enxurro Da xepa das feiras de tudo

Clozapina política

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As tripas fascistas

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Wilton Cardoso · as tripas fascistas 2.ogg   ironia escatológica de uma obstrução intestinal não desejo o seu fim afogado na merda que você sobreviva e apodreça na cela não desejo o seu fim afogado na merda mas não vou lamentar se for sua hora em todo caso afogado na merda há de ser o seu fim seja a hora que for pois seu dentro é puro intestino e cocô e em sua merda de vida você só faz merda                                   seu Merda                                                         Genocida!

Os desaparecidos

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Não derramemos falsas lágrimas pela primeira vez que desapareceram no frio espiritual da cidade para perambularem invisíveis por ruas e praças. Nem choremos agora seu segundo desaparecimento, quando o frio da madrugada petrificou-lhes os corpos supérfluos. Não caiam de nós lágrimas hipócritas pelos caídos da urbe, bagaço há muito esquecido. Choremos por nós, os bem nascidos e criados para a dignidade cidadã de funcionar como narcisos frios consumidos por balcões e vitrines, corpos dentados hábeis e adaptáveis às funções que nos honram, mecânicas almas vivas(?) esquecidas da dor do desaparecimento dos desamparados, peças impassíveis da máquina abstrata de cifras que mastiga suores e cospe um bagaço de corpos invisíveis. Choremos por nós, úteis e visíveis (e visíveis porque úteis), incapazes de nos compadecermos pelos desaparecidos que definham incógnitos nos labirintos das cidades. Choremos por nós, desaparecidos de nós mesmos nos labirintos da utilidade.

o segundo desaparecimento

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morreram de hipotermia na madrugada fria do pais tropical mas existiam? quem os via  nas vias viadutos e calçadas? quem deu falta do que não havia?   Mendicantes do parque (Iberê Camargo)

por um delírio

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a vida atravessou-me a pele o corpo estava no mundo mas eu não a musica triste e alegre irradia uma canção que fui e não existo mais pedra no meio do destino sina à margem da vida menino sem tino só (o) sabe esse grito silêncio feito de imagens nas águas salgadas da página suspiros e mágoas em falso menino fausto um'alma por um delírio  

lá entre nós

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como ser louco dentro se dentro está vazio cheio somente de contas bolsos e cifras no cio? ah! mas há um outro dentro dentro do dentro (ou ao lado sabe-se lá) uma sombra cheia de monstros que volta e assombra o centro e arromba as portas do mundo o poeta é um louco                                    agora                                               da boca                                                             pra fora

cá entre nós

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Decalcomania - René Magritte os poetas são pessoas normais carro cachorro supermercado bom dia tudo bem como vai só uns poucos centímetros fora do centro sensível alma que- brada demais o poeta é só                  um desses              loucos        para dentro

Capitalismo e (não) sentido

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Vazio pós-moderno O vazio psíquico pós-moderno, a sensação de que a vida que se vive não tem sentido humano, nada mais é que a plenitude do Capital, da alma adestrada como sujeito automático, voltada primariamente para a produção de valor. O vazio humano da pós-modernidade é a realização plena do Capital. Certamente não há sentido no universo e a Terra é um escuro cisco esférico perdido em meio a bilhões de galáxias. Não há, tampouco sentido no interior deste pequeno cisco em que vivemos. A Natureza por acaso nos gerou e nos desconhece completamente. Mas o ser humano é um ser de sentido. A consciência é um animal à caça de sentidos e, ao mesmo tempo, uma fábrica de significação. As pessoas inventaram os deuses para preencher o mundo de sentido, para fazer sua existência ser mais que um simples existir casual. O capital talvez seja o primeiro Deus criado pelos homens que esvazia o mundo de sentido e converte homens e natureza em instrumentos para reproduzir sua forma quantitativa e abst

os mortos se amontoam

Wilton Cardoso · Os mortos se amontoam o fascismo fascina contagia as gentes e a pátria apática não decifra as cifras das frias telas do agora em trevas: píxeis piscam milhares de olhos tolhidos de brilho gráficos gritam as vozes pálidas agora apátridas a pátria o logro do ogro um campo de corpos onde os mortos se amontoam os mortos se amontoam os mortos se amontoam os mortos se amontoam os mortos se amontoam os mortos se amontoam os mortos se amontoam numa montanha de mortos

O Deus-Natura, a Dádiva e o Capital

Da consciência do Deus É preciso acabar com alguns preconceitos acerca dos deuses. Um Deus não precisa saber do outro e de si. Não é necessário que tenha consciência, que seja piedoso ou perverso, moral ou imoral, como Espinoza já demostrou. Um Deus não deixa de sê-lo por ser inconsciente, como é o caso do Capital. Consequentemente, esse Deus é  amoral, indiferente e frio ao devorar seus filhos (nós) para se reproduzir, isto é, para permanecer idêntico a si. Da eternidade do Deus Um Deus também não precisa ser eterno, ou melhor, ele precisa ser “eterno enquanto dure”, como diria o poeta. A estrutura a que chamamos capitalismo é histórica. Ela emerge, como proto-capitalismo no fim da Idade Média e se consolida como estrutura acabada na Inglaterra da Revolução Industrial, para se expandir e tomar o mundo todo nos próximos séculos, graças a superioridade técnico-militar dos povos mercantilistas e capitalistas em relação aos outros, não capitalistas. O Capital é um Deus recente, cujo nasci

As pessoas não sabem do seu Deus

As pessoas não sabem do seu Deus Não há evidências de que existam deuses sobrenaturais e os que neles creem se fiam na fé para afirmarem sua existência e poder. Marx, no entanto, provou a existência do Capital como motor imóvel (Deus) do capitalismo, descobrindo, inclusive suas leis tendenciais que a história não cessa de confirmar. Descobriu, portanto, a estrutura (capitalismo), seu centro (Capital) e sua gramática (leis). Mas quase ninguém, principalmente os economistas  do sistema, sabe ou quer saber da verdade sobre Capital, essa forma social que funciona efetivamente como um Deus cego, abstrato, quantitativo e voluptuoso. Quase ninguém quer ver esse sujeito automático que nos moldou à sua imagem e semelhança e nos move desde o fundo da alma. Um Deus inventado por nós, como todos os deuses, mas que, mais que os outros, efetivamente dá forma e movimenta o nosso mundo de acordo com sua vontade. O primeiro Deus que existe objetivamente e de forma autônoma dos seres humanos e que, por

Os iconoclastas modernos são crentes involuntários

“Tudo que é sólido se desmancha no ar”. Sob o capitalismo o tempo histórico se acelera de tal forma que a mudança se torna rotina. Ciência, técnica, vida cotidiana, costumes, moral, visões de mundo, tudo se encontra em permanente transformação. No campo do pensamento não é diferente, a começar pela filosofia que demoliu a teologia e, num processo de revolução interna permanente, demoliu todas as sua ontologias, criticando impiedosamente o pensamento do Ser, da Estrutura, da Razão, do Sujeito e da Ideia. Nas esteira dos demolidores do Ser da filosofia, cujo maior representante é Nietzsche, todas as humanidades e ciências sociais recusaram o pensamento do Ser, seja ele anterior à modernidade, que se afirmava explicitamente como grande narrativa, sejam o que surgiu no seu decorrer, como o marxismo e a psicanálise, que se propunham escapar das armadilhas ontológicas do Ser. Os intelectuais do pós-modernismo, auge da crítica e demolição do ser, reprovavam as ideias de Marx e Freud que, sob

Há um muro que à frente se amontoa (Por Álvaro Assis)

Há um muro que à frente se amontoa Uma parede sem portas e janelas Um sepulcro lacrado sem arestas Contra isso, um homem pré-moldado Sem vergalhões, embora a ferrugem Deixou de imaginar o túnel, deixou de imaginar as trepadeiras, deixou... Está lá e pronto, sem picareta, sem ponteiro Não anseia desenhar com tijolo um ponto de fuga Ou fazer corda de lençóis Tem apenas uns poucos pregos no bolso e a testa como martelo Quanto mais se aproxima, mais o muro cresce Quanto mais se distancia, tanto mais as pernas se conformam Primeira impressão Uma imagem forte dá início ao poema. O muro se forma por si, como barreira intransponível, prisão-sepulcro do homem, cujas armas para superá-lo são uns poucos pregos e sua testa-martelo. Mas ele não tem armas por que é a realidade ou por que não deseja um "ponto de fuga" ou uma "corda de lençṍis"? É o muro da existência? A pedra no caminho? Barreiras sociais? Frustrações, desencantos, impotências do humano? O muro parece ter vida (qu

Franklin (por Caio Resende)

O que sei? O que não sei? O caminho é sempre breve. Poucos olham ou sentem. Isso é a vida: ser é uma pausa. Trago a ruína de outras manhãs e um precipício ancorado na língua. A persistência inconsútil do que é lida e distância, do que não é a clériga calmaria de domingos em família. Ouço o crepitar dos anos e procuro a minha face, como se uma mão gestada na sombra tocasse o útero de uma palavra. Nunca fomos exatos. O que nos orbita é vagaroso desapego. Uma tarde – aquela. O conhaque, o outono de um sorriso. E me acho bem com os mortos – calar é minha única ciência. Nossa natureza ecoa das coisas. Viver é ser vasto de ausência.   Primeira impressão: Não conhecia o autor. No começo me pareceu poesia (à moda) de velho: quem usa, num mesmo poema, palavras como inconsútil, crepitar e clériga? O último verso me lembrou Fernando Pessoa, mas me parece um autor com voz própria. Ando muito desconfiado de poemas contemporâneos em primeira pessoa, que costumam ser auto-elogiosos e auto-afirmativos

A poesia bonitinha

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Não tenho mais paciência para poemas bonitinhos em eruditas belas-letras de/pra gente culta e elegante. Parece que todo os bons poemas belos e singelos já foram feitos por Quintana Vinícius, Bandeira e Drummond.   Prefiro a música brega dos cantores da sofrência, que sabem, como seus fãs, que suas canções descartáveis são só entretenimento, mercadoria de ficar rico famoso, chique e bonito. Prefiro os poetas malditos (se é que ainda existem) e seus poemas-gritos cheios de arestas e espinhos, que sabem, como a meia dúzia de gatos pingados que os leem (se há quem ainda os leia), beber d'aguardente do mundo  e cuspir pelas cabeças uma chuva de balas-letras.   Não tenho mais paciência para a poesia fofinha, adestrada de academias, de esteta para exegeta, com respeito e fidalguia no conchavo das belas-letras. Não tenho mais paciência para a poesia bonitinha!      

As lutas de resistência dos uberizados

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Uma coisa me intriga na resistência dos trabalhadores uberizados/precarizados à superexploração de seu trabalho. Esses grupos de resistência não formam uma coletividade como o sindicalismo tradicional, que propõe, pelo menos em teoria, a solidariedade como base da sociedade, com ideias coletivistas e ações políticas em favor de reformas (nem digo revolução) humanitárias do capitalismo, que beneficiam sua categoria, sim, mas também todo o conjunto da população. Essa visão universalista da solidariedade permitiu, no passado fordista, a união dos sindicatos com outros setores progressistas, inclusive industriais, na construção de um projeto social-democrata que tentava ao menos frear a dinâmica excludente e concentradora do capitalismo. A resistência dos uberizados ao novo capitalismo digital pós-fordista, ao contrário, se baseia numa solidariedade restrita a seus próprios pares e visa quase que exclusivamente o ganho monetário: são raras as movimentações por direitos coletivos, como limi

Reza vermelha

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Cada cristão sua cruz, cada povo sua esfinge.   Se eles têm Moisés e Jesus também temos nosso judeu, maluco beleza barbudo prevendo futuros de abismos que desabam neste agora arruinando os paraísos propagados pela (publi)cidade, arruinando a felicidade eterna da (pós)modernidade com a força dos terremotos e a surpresa dos meteoros. Cada cristão sua cruz, cada povo sua esfinge.   Se eles têm Moisés e Jesus também temos nosso judeu com sua fé profunda no Deus, mas em vez de adorar esse Deus nosso santo judeu O pragueja e nos prega o abandono do Deus. Ó filho bastardo de Germânia e Judá! Ó filho herege da sacra burguesia! Ó excomungado que é nosso guia! Ó pecador d'alma odiado das gentes e que amamos tanto! Ó profeta escatológico da crise e do chash, acusador do cu sujo do Deus das cifras e suas cagadas fétidas que infectam a alma do povo, que rapam a pança do povo, que trincam a esperança do povo! Cada cristão sua cruz, cada povo sua esfinge. Se eles têm Moisés e Jesus também temos n