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Nine

O réu é de origem pobre e oriundo da região Nordeste Criado e crescido na metrópole de São Paulo Foi treinado e exerceu trabalhos braçais E fala mal a língua pátria O que torna, de saída, todos os seus atos suspeitos Não é negro de pele mas exames acurados de sua psique Evidenciam uma alma enegrecida, certamente por conviver, Desde tenra idade, muito misturado à gente de cor e paupérrima O que eleva consideravelmente a suspeição de seus atos Como atenuante, o réu ascendeu na vida, ocupou cargos importantes Usou terno e gravata exigidos pelo exercício do cargo E tem, atualmente, um padrão de vida relativamente elevado Porém, o atenuante é completamente anulado Pois o réu, embora livre da praga da pobreza Insiste em trazer dentro de si a alma negra E pobre e nordestina e de trabalhos braçais E barba muito suspeita e recusa em elevar seu português operário À língua culta dos doutos que somos nós Declaramos, então, o réu indigno dos cargos que ocupou E o proibimos

Paisagem muda

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O lote limpo dos detritos, retângulo de concreto entre três muros e a calçada. Quem quer se lembrar da dor que irradia da cápsula ao corpo, do corpo à alma? Do muro dos fundos um grafite grita a dor soterrada no concreto do lote. Um grafite grafa as letras de Leide que não vai mais andar em nossa cidade. Só um grafite (arte de negros) corta o silêncio de concreto do lote e desenterra a dor (grito invisível) dos que não têm voz.

nuvens-chumbo

ele ta parado rios d pessoas dinheiro bytes likes circulam ao redor ele ta parado na esquina da city os cabos emaranhados nos postes nos chips nos neuronios nos mercados parado na esquina uma esquina caipira meninas de minissaia tatuagens mendigo cachorro carros um cheiro d mijo parado no centro da cidade do mundo num canto do manto inconsútil de asfalto que a cobre  onibus correm vagam pobres motoboys trabalham ele parado alheio  ao zumbido infernal da urbe pronta pro abismo depressivo desemprego desespero rondando familias famiglias rondando a carniça guangues d terno e gravata  corporations  banks cassinos roleta russa d logaritmos os cerebros bem pagos a ultima tecnologia se transmuta  armas armazens gens mercado das almas mercado das carnes sangue civil vaginas frescas misseis paus guerra mundial fudelança geral geopolítica putaria ele na esquina qualquer parado absorto o mundo corre solto rios de merda debaixo dos pes o esgoto da al

Cinema comercial e dominação abstrata

Da série "Capitalismo em agonia" A dominação abstrata segundo a crítica do valor A crítica do valor retoma e desenvolve uma ideia poderosa de Marx: a alienação. A dominação fundamental no capitalismo não é pessoal, ou seja, não é a que a classe burguesa exerce sobre o operariado, onde aquela personifica o capital e este o trabalho. Nesta perspectiva, que é a do marxismo tradicional, a emancipação do capitalismo seria feita pela classe trabalhadora, que assumira o papel de sujeito revolucionário. Para a crítica do valor, a dominação fundamental no capitalismo não é a que a classe burguesa exerce sobre os trabalhadores, mas sim uma dominação impessoal e abstrata, exercida por uma forma social, o valor . Em termos grosseiros, a dominação é exercida pelo dinheiro/valor, um meio que se tornou um fim em si mesmo. No capitalismo, o valor é um fim em si mesmo por dois motivos: Seu único objetivo é se valorizar, ou seja, se transformar em mais dinheiro (lucro). Este m

Com a bênção de Deus

O porrete baixa nas costas das bichas e macumbeiros Os vermelhos e os pretos apodrecem na prisão-vingança As bocas evangélicas vomitam fascismo como se cantassem o amor As cantilenas neoliberais enrabam o povo como se o ninassem As cobras, águias e urubus se apoderam dos quatro poderes As chupetas eletrônicas adoçam a alma enquanto levam tudo Os condomínios e apartamentos se apartam do mundo As pessoas se apartam do mundo, umas das outras, de si mesmas O ódio floresce nos jardins de asfalto

Canções Concebidas no Inferno

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Crítica do valor: crítica do trabalho

A crítica do valor, ao contrário do marxismo tradicional, é uma crítica do trabalho. Este é visto como a substância do valor, ou seja, o trabalho no capitalismo existe para se converter em valor e mais valor (capital). O marxismo tradicional é uma crítica do capitalismo a partir do trabalho. Por isso, a classe trabalhadora é vista como o sujeito coletivo revolucionário que irá superar o capitalismo, rumo ao socialismo. A crítica do valor não nega a luta de classes, que é o conflito do trabalho com o capital. Mas, para eles, esta é uma luta dentro dos limites do capitalismo e não tem a capacidade de levar à superação deste, pois o trabalho é uma categoria básica do capital. O comunismo (superação do socialismo) não viria com a tomada do poder pela classe trabalhadora, que se tornaria proprietária dos meios de produção, como pensa o marxismo tradicional. Para a crítica do valor, o comunismo só será possível com a abolição da classe trabalhadora. A superação do capitalismo não seria

Marx antropólogo

Da série "Capitalismo em agonia" Dependendo da perspectiva, Marx pode ser considerado economista, sociólogo ou filósofo. Recentemente, a crítica do valor, cujos principais teóricos são Moishe Postone e Robert Kurtz, redescobriram um outro Marx e, consequentemente, um outro marxismo, próximos da antropologia. Um conceito chave da antropologia é o de cultura, que se refere, entre outras coisas, à identidade de um povo e, consequentemente, à diferença entre ele e os outros povos. O reconhecimento da diferença irredutível entre os povos é um mérito da antropologia. Esta irredutibilidade implica na impossibilidade de se medir um povo pela régua cultural de outro povo. Quando uma cultura tenta entender a outra, a partir de suas ideias, crenças e valores, inevitavelmente haverá uma distorção que resulta, quase sempre, na visão do outro como indesejável ou inferior. É o que aconteceu com o Ocidente no séc. XIX, quando os primeiros antropólogos modernos, ao tentar interpret

na pátria pré-abissal

ambulantes e mendigos rondando os sinais entupidos de carros e noias rondando as ruas despencadas de lobos ferozes e ovelhas crédulas rondando o caos ricaços de mala e cuia para Miami Portugal ou reforçando seus bunkers à prova de pretos e pobres subgente sonhando sonhos clandestinos de América e Europa a média remediada morrendo de medo em seus bunkers precários úteros de ódio e rancor se agarrando a lentes e telas bíblias e balas futebol e churrasco todo mundo embalado na canção de ninar do trabalho duro e do mérito pessoal entoada dia e noite nas ruas e redes para as pessoas de bem contra os vermelhos do mal amém

Lá fora (bunkers 2)

As mãos dadas do mundo? Desse mal- querer não padecem. Querem saltar da favela ao paraíso dos bunkers, vida próspera e reta, ganhar e gastar. Querem voar pra clausura dos muros dos homens-casulo em suas conchas de ouro.

Limpeza urbana

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Guardas civis, com o apoio de garis, tomam os bagulhos do mendigo e, de quebra, lhe aplicam uns bons sopapos. Bem feito! Quem mandou sujar a cidade com os seus trapos e sua existência? O episódio é desagradável ao paladar civilizado, porém, necessário ao bom funcionamento e à assepsia da cidade, para o bem viver das pessoas de bem. O prefeito, sinceramente, lamenta o os fatos e lava as mãos.

bunkers

os vidros fechados dos carros os muros altos das casas condomínios fechados edifícios fortificados câmeras, sensores, alarmes a segurança dos shoppings lá fora o mundo favela sem fim o egoísmo venceu palmas pra mim

A natureza da poesia

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A poesia sempre foi uma coisa suja, das que se misturam com o pior que há. A poesia de hoje não está nos livros, purificada por rigores estéticos, regrada pela erudição e chancelada pela autoridade dos intelectuais e da academia. A poesia de hoje é a música pop, a canção, samba, blues, rock, sertanejo, funk. Os poetas e sua poesia se sujam de massa e mercado. Sua poesia é feita de música e letra rudimentares, movida à fama e dinheiro. É neste pântano da poesia que surge, de vez em quando, a luz de uma canção selvagem, um poeta sombrio que nos ilumina.

Nosotros

Multidões, vagam sós pelas redes, ruas, mercados, shoppings, rodovias... Carregam o desejo infinito de mais, sempre mais. A vida se esvai e a multidão, que não sabe de si, se entrega ao trabalho incessante de seus corpos contagiados pela devoção da devoração do mundo e de si mesmos. Os zumbis perdem partes de si perdem os seus, a alma e o mundo e não sentem dor. Perdem a beleza, derretem, despencam de si e não se sentem feios nem belos. Perdem o prumo, o sentido, a lembrança e não sentem o nada imenso que os habita. Autômatos perfeitos, os zumbis não sentem o mal nem o bem, nem a solidão que se expande na noite sem lua e estrelas de seu espírito ausente. Não sentem nada a não ser o desejo infinito de devorar(-se), de gastar(-se) mais e mais