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Mostrando postagens de 2022

Caraminholas na cabeça do menino aluado

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Como é  que existe algo se não era de haver nada, nem este gato, átomo, galáxia nenhuma, nem Deus, nem a ideia de Deus; sequer este pensar que não há  de haver deuses, coisas, nadas... nem este poema que quase não existe?  Mas há!   E se houvesse um outro universo no multiverso, o inverso do espaço- tempo do existir,  (não) onde só há o Nada? E se numa dessas jornadas de versos ao infinito das caraminholas que eu empreendo sempre, eu caísse nesse outro universo vazio, eu me afundaria no Nada ou não? Ou eu adoeceria o Nada de (eu) existir?

Oração do segundo turno

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Nossa Senhora dos Pagãos e São Marx, protetor dos ateus, dai-nos forças para não cairmos na tentação de jogar tão baixo e sujo quanto as pessoas de bem e certos filhos de Deus que mais parecem filhos da puta; e dai-nos verve, paciência e empatia para a crudelíssima luta para libertá-los do surto fascista e trazê-los ao mundo real como ele é, sem o Bem  contra o Mal e nem cons- pirações pervertidas; e livrai-nos do mal do bolsonarismo e também de todo e qualquer (neo)fascismo, amém!    

Expécie

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Do pó à alma. Tênue equilíbrio de carbono entre a matéria e a teia de sentidos que se e- vapora com(o) as águas do Cerrado, até o deserto de nós. A terra sem os rios de símbolos milenares. O equilíbrio se quebra, a alma e a matéria dos vivos se transmutam no Deus monetário, autômato Narciso. Que deus sentirá nossa falta?    

Brega

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Só é bom quando é  um retumbante sucesso na Rádio Record(ação) infinita de nossa velha juventude.  Só é bom quando vira  uma lembrança-bomba que nos vira do avesso e revira a cabeça e os olhos da gente em coração, fígado e ouvidos como jamais se vira. Só é bom quando o passado nos fere com suas mágoas e risos por nós quase esquecidos e a pieguice de sempre para sempre nos habita.    

Lembrança

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Minha sombra no fundo do riacho de águas transparentes. As águas passam a sombra fica mas o que existe, mesmo no fundo, são as águas.

Prosa com um velho poeta

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não saberás o rumo a seguir, pois o caminho também não te espera (Álvaro Pacheco)   Se ninguém te lê Mallarmé quanto mais vosmecê velho poeta da província com suas canções desoladas sobre o (não) sentido da vida, suas canções de modernas feições mas deslocadas da forma e da fúria modernas, suas canções tão longe deste chão miserável onde o povo só pode pensar no pão de amanhã que talvez faltará.   Ainda assim te entendo velho poeta e é alegre e doce ler os poemas teus tão céticos e amargos. Nalguns dias a tua solidão me faz companhia. Entendo também outras almas sensíveis, poetas ou não, que podem meditar sobre o não sentido da vida sem se preocupar com o pão de amanhã, mas sentem raiva e angústia (ou seria vergonha, culpa, má consciência?) por tal privilégio, já que o resto do povo só pode pensar no pão de amanhã  que talvez faltará.   As almas sensíveis não conseguem/tentam escapar da máquina do mundo que fabrica uma multidão de bocas famintas e fabrica um muro e do outro lado do mur

ex-in

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o in stante em q eu ex isto ñ ex iste + sou aqu ele ain da do in stante q pas sou ?      

Quase velho

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Sempre foi velho desde criança contemplando adultos dentro do mundo emaranhados em seus afazeres, deveres, amores corpos inteiros no fluxo confuso do mundo. Olhava-os com espanto e reverência, sem saber  que os olhava das margens se entregando pela metade ao fluir tormentoso do rio como crianças apavoradas que se agarram às margens e sonham as aventuras do mergulho.   Para a criança o rio  é a fonte a refletir seu inocente e cruel Narciso o rio apenas um instrumento do riso (só depois os adultos fantasiam  vivências poéticas do rio da infância). Mas naquele menino havia um Narciso  mais cruel, que nunca  quis ir-se e o menino ficou à margem e o rio acabou em lago, espelho estanque de seu riso sempre mais amargo como o riso dos velhos mal vividos.   E o homem feito vagou  a vida toda imerso pela metade e a outra metade etérea (ou mineral ou putrefata, qualquer metáfora para fora da vida) presa nas margens da vida como os velhos cada vez mais etéreos, pois lhes falta corpo cada vez mais

Poética do perdão

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Desculpem-me as alturas  das profundezas intemporais mas as palavras também falam de larvas, lavras e chão e são para se ver também. Desculpem-me os vates do chão  mas certas horas, em horas incertas há desejos de céu no céu  da minha boca incrédula. Desculpem-me cultores do chão e da forma pois minhas memórias se querem contar, de alguma forma não devem ser minhas memórias apenas. Pois há os puritanos do chão e o céu da forma  pura e outro céu ainda, do espírito mais puro. Desculpem-me os puros pela voz mestiça, o sincretismo de rezar ao mesmo tempo em mil altares, o infiel deitar-me em tantas camas com palavras de lava e lama e seu veneno vaporoso. Desculpem-me o bacanal das línguas lânguidas  dissolvidas em orgasmos sujos de terra, entorpecidas de ares viciados, em turvas águas afogadas e queimando-se ávidas no fogo fátuo no seu eterno fogo fátuo. Perdão  por todos os meus pecados! João Colagem

parcas linhas

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a morte destino certo a vida sentido  incerto um certo caminho cego       Nº 16 - Jackson Pollock  

Idílios de um burocrata febril

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Do ebook Pretextos marginaus de 2004 Passar as tardes longe vendo o vidro mostrar-me o lento fluxo de tempo e a chuva chegando. Esquecer todos os mandachuvas volver-me todo – e só sei se entregar-me se tragar-me até o último pulso – ao luxo de um frêmito de vácuo. Caos e acaso, miríades, ninguéns acolhei estas ondas quase domadas quase concêntricas em si (mim) lançai-as ao descompasso anexato do fluxo desta chuva. Não reconhecer-se esquecer todos os abismos apagar as cismas soltá-las, prisma cacos, nacos de lembranças refugadas. Num cisma nego-me e pego apenas penas flutuantes amantes de uma lua de rua. Chuva jamais me houve.     Estar doente tem suas vantagens de ver assim meio de esgueio gente, bicho, coisa assim querendo cair a gente atravessa o mundo de lado meio deslumbrado, meio soçobrado a vida trisca num quase num se ou numa frase nem doída nem satisfeita. Viver doente, empestado ou demente assim meio sem jeito, é feito fazer de qualquer ponto da vida uma tangente.     Aqui d

Serei-as?

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Ouvindo Céu, Salma Jô,  Maria Beraldo e Bárbara Eugênia   elas muitas seus corpos um canto do cosmo onde o cosmo se con- centra   eros & afrodite corpo & boca alma & vulva pele & mente língua & dentes tudo tanto tenso tão in - tenso cavalas felinas ser- peiam perversas derramam-se em palavras nuas suas línguas-lâminas cortam-me os nervos d'alma salivam em mim seu beijo-veneno desejo (fêmeo) de uma vida inteira numa linha de  Voz Vênus de Milo com gavetas - Salvador Dalí

Instant star (Pós II)

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In stável sou estar eterno... eterno brilho fugaz   pó sidéreo, eter namente pós- moderno.  

letra morta

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Wilton Cardoso · letra morta.ogg só os poetas (ou as pirantes a) leem poesia   poeta só prestarás (se prestares) depois de bem velho ou bem morto (quase) ninguém lerá teu verso torto tantos desejos tontos   ah! vida perdida em letras suicidas  

Furdunço

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Os alvos fidalgos na sala Brindam aos deuses da fortuna   E ralham soberbos co'os bárbaros, Tosco gentio de fea figura, Alma escura e estirpe mui pobre, A amassar o pão na cozinha, A labutar até o bagaço E a grunhir, vã revolta, aos nobres Reza braba, praga e resmungo. E enquanto rinham, cai a casa Na cabeça de todo mundo.   Sem título - Zdzislaw Beksinski

Um saber infernal

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O caminhar sombrio daquele que carrega dentro de si o inferno em meio ao inferno  das ruas sujas de medo miséria, ódio e rancor.   Sua alma queima de frio... Pelo escuro possuído e envolto no escuro, só  o sóbrio saber das sombras risca uma fresta de céu (sol) na couraça dos dois infernos carentes do calor do amor e da luz do sentido.