A alma podre do poeta
Do lado de dentro da máscara burocrata, um solo putrefato gesta uma flor feia e ex- uberante, um poeta etílico de rosto lúcido, límpido, barbeado e banho tomado. Do lado de dentro uma flor suja, um olor fétido, enraizado na face sombria da alma e, mais ao fundo, se afunda no lodo podre da cidade, alma de asfalto e cimento, vidro e plástico, corpo atravessado de sonhos e cifrões. Do lado de dentro da fantasia feliz que desfila no carnaval do dia a dia (das orações e labutas, dos negócios, do gozo cinza e furioso do consumo) se dis- semina a onda bacante, a erva daninha, praga sem serventia, a poesia. Imagem de fundo: "O falso espelho" de René Magritte