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Mostrando postagens de julho, 2020

Domínio abstrato do capital, o ponto cego do capitalismo

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Sem dúvida, quando um povo entra em colapso; quando sente esvair-se para sempre a fé no futuro, a sua esperança na liberdade; quando a submissão se lhe afigura de primeira utilidade e as virtudes dos servos se insinuam na consciência como condições de sobrevivência, então há também que mudar o seu Deus. (Nietzsche, O Anticristo) O capitalismo caminha para o colapso inevitável O capitalismo é uma totalidade direcional, uma estrutura que instaura uma evolução determinista em meio ao real indeterminado. Por isso, é impossível “moderar os mercados”, a não ser provisoriamente, como foi o caso dos 30 anos dourados do Primeiro Mundo do Pós-Guerra e seu estado do bem-estar social. Por conta de sua lógica determinista, as leis tendenciais do capitalismo são inevitáveis e irreversíveis, como a tendência da substituição do trabalho humano pela automação, que baixa os custo e, em consequência, provoca a queda da taxa de lucro por unidade de mercadoria. Daí a necessidade de se compensar e

Por ocasião das lâminas

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lâminas… na carne alma degustar cada lâmina com calma por dias a fio já que nós, os per versos hedonistas nos alegramos de gozar cada dor longa e profunda mente do meu longe... sempre te leio um jeito ainda de perto (cheio de saudades) obrigado pelo bilhete e pela memória sa(n)grando o tempo com estiletes de letras e margens P. S. Vejo a menina sensível, a poeta frágil-forte cortando a atmosfera irrespirável das metrópoles. A parca menina tece fios de lâminas delicadas cortando a noite pesada do asfalto, como quem brinca, como quem chora, como quem sangra… fios de sangue de lágrimas de alegria. A mulher sombria... pois ela entende de fazer brilhar (da sua voz de dentro) os claros e os escuros que a povoam / nos povoam... A poeta sombria desferindo lâminas na nação em trevas, na danação do povo, no ovo da serpente. Ela desfia, no fio das lâminas, o seu veneno de luz. arte de helô sanvoy

Todas as revoltas e revoluções fracassaram. Mas elas voltarão inevitavelmente

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Continuação do texto Todas as revoltas e revoluções fracassaram. E ainda fortaleceram o capitalismo Em menos de 300 anos o capitalismo criou mais progresso técnico e riqueza material do que toda a humanidade pré-capitalista, além de produzir alimentos, inventar tratamentos médicos e proporcionar confortos cotidianos em quantidade e qualidade inimagináveis antes dele. No entanto, com toda essa exuberância e dinamismo fáustico, o capitalismo é insuportável para os humanos. Por vários motivos. Um deles, é que se trata do único sistema social inventado pelo homem em que há fome em meio à fartura alimentar. Nas sociedades pré-capitalistas só havia fome quando faltava comida, por conta de pragas ou desastres naturais. A fome em meio à abundância é a expressão de um problema mais profundo do capitalismo, que é sua tendência incontornável à concentração de renda e riqueza, agravada por relações sociais abstratas que constituem os indivíduos como produtores isolados de riqueza, aprofund

Todas as revoltas e revoluções fracassaram. E ainda fortaleceram o capitalismo

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Cedo ou tarde o capitalismo se revela como um sistema que não serve à vida humana, mas se serve dela (e a sufoca) para se reproduzir. Este fato fica explícito em momentos de crise, como a que vivemos desde 2008, quando os lucros da produção de mercadorias se tornam baixos demais e, para compensar a queda, o sistema recorre às demissões e aumento da exploração do trabalho - na forma de arrocho salarial, precarização, aumento de jornada, diminuição de direitos etc. A já difícil vida das pessoas se torna insuportável e toda a frustração humana provocada pelo capitalismo emerge com a crise. Afinal, o sistema mercantil transforma as pessoas em mercadorias (trabalhar é vender-se no mercado) e máquinas de fazer dinheiro, reduzindo o humano à racionalidade instrumental e à competitividade, aspectos que se tornam centrais na psique do homo economicus, subordinando todas as demais características humanas, como solidariedade, afetividade e vivência coletiva. O problema do capitalismo é que,

Sísifo

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Ser crítico, intelectual, estudioso é gratificante. Há evolução, maturidade, legado para outras gerações. Poetas não evoluem, mesmo que cresçam poeticamente não acumulam nada, não incorporam nada em si mesmo, nada para si, nada para ninguém. Todo o seu movimento furioso, voluptuoso, conduz ao ponto zero de onde a vida partiu. Sua herança não é o conhecimento, só uma sucessão de fugacidades que talvez cintilem nos olhos de alguém na cidade. Fecha-se a página e ele (poeta, poema, livro) morre para sempre, até a próxima abertura, novo nascimento do nada. Poetas giram em falso, são perpétuos começos absolutos, crianças eternas... Poetas são humanos no ponto mais fundo dos homens, onde não se suporta mais ser a pura passagem, soldado raso na linha de frente, tábula rasa, superfície do existir, onda que mal emerge e já torna a mar. Talvez por isto busquem o sagrado, iludem-se revestindo seu ritmo de religações do espírito. No fundo sabem que sua voz e

Matrix e a democracia totalitária

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O que eu queria propor aqui é uma tentativa de aproximar o filme “Matrix”, sobre o qual já escrevi em outro ensaio , com o artigo “A democracia totalitária” de Robert Kurz, um dos fundadores da crítica do valor. O meu primeiro objetivo é facilitar, por meio da analogia, o entendimento do leitor acerca de alguns conceitos e pressupostos importantes da crítica do valor. O segundo objetivo é mais interpretativo, de tentar mostrar que a semelhança do filme com a teoria do valor não é fortuita, mas um sintoma da crise sistêmica por que passa o capitalismo na atualidade. Os paralelos entre o “Matrix” e o artigo de Robert Kurz Coincidentemente (mas seria mesmo coincidência?), tanto o filme “Matrix” quanto o artigo de Robert Kurz são de 1999, auge da era neoliberal, quando se acreditava que o capitalismo vencera definitivamente o socialismo, Marx e o marxismo; e que não restava outro caminho para a humanidade que não o da democracia liberal, combinada com a economia de mercado gl