26 novembro, 2021

Pós

Eu 
Não estou pós-moderno,
Eu sou pós-moderno,
Completamente abduzido, ab-
Sorvido no entretenimento fútil da vida contemporânea,
Não tenho paciência para a declamação do poema,
Nem mesmo na voz irônica do Abujamra.
Não sou mais irônico nem fragmentado,
Sou cínico,
A fragmentação em Pessoa,
Quebra essencial,
Caco de um vaso que não houve,
Não tenho paciência de atravessar romances,
Quero apenas ficção científica nas telas.
Apocalipse zumbi,
Se o capitalismo é um beco sem saída
Suicida,
Que o mundo acabe então 
Pela mão invisível do Deus,
Cansei de imaginar utopias, buscar outras vidas,
Meu bem,
Enquanto o mundo não acaba
Vamos gastar, beber, dançar como loucos à beira do abismo.
Não tenho paciência para um vinil,
Eu quero três minutos de música ou menos,
Aquele pedaço viciante da canção,
Alívio imediato, a cena de impacto,
Pensar apenas no próximo
Negócio, festa, viagem, transe ou transa.
Viver sou eu
Gozar agora e esquecer
Ontem, amanhã, os outros, o mundo,
Esquecer tudo!
Não tenho paciência de escutar,
Conversar, entender, esperar
Nada!
Estou pleno apenas no instante
Em que me aplaudem!
 
 
La metamorfosis de Narciso - Salvador Dalí

 


17 novembro, 2021

Narciso (mise en abyme)

viv

eu ou si

perd

eu em

sonhos

acor

dados

em des

acordo

com a v

ida con

creta

ícaro

em fuga

aluci

nada

em que

da livr

e se des

pedaç

ando

no abis

into voo

látil

de um sí

sifo in

saci

áve

l

 



13 novembro, 2021

há galáxias

a poesia se perdeu

o poeta não existiu

ninguém leu


há galáxias

inscritas no vazio

a brilhar no céu

 

 

 

a poesia se perdeu

o poema não existiu

ninguém leu


há galáxias

perdidas no vazio

a brilhar no céu


10 novembro, 2021

O engenheiro onírico

Quando eu era menino, adorava brincar de carrinho. 
Então, construía estradas, pontes, estacionamentos, postos, 
calçadas e ruas, tudo muito rudimentar,
a imaginação é que sofisticava a obra. 
No meu sonho de olhos abertos 
aquele pequeno e tosco universo
ganhava detalhes, se movia, funcionava 
que nem uma cidade, melhor ainda, 
uma ultracidade cheia de Graça e Vida. 
Eram horas e horas absorto no parto 
de um mundo que se fazia 
com a terra vermelha do quintal 
e o cimento da fantasia. 

Depois que tudo estava pronto, 
finalmente chegara o grande momento 
de brincar de carrinho, de imitar os adultos 
na faina diária, brincar de viver, de ser 
gente grande de verdade! 
Mas como era chato! Não havia mais nada 
para se construir no chão do quintal 
nem nas nuvens da minha cabeça,
avoada desde aquele tempo. 

Eu nunca gostei de brincar de carrinho, 
eu queria mesmo era construir caminhos, 
estradas de terra 
para longe daqui,
estradas de sonho
para o sem fim de mim.

(Mas eu queria muito
gostar de brincar de carrinho
como todos os outros meninos)


João Colagem



20 setembro, 2021

Efemérides

o choque de bilhões de sóis
      e anos-luz
      de duas galáxias remotas
a batalha das migalhas 
      das baratas na cozinha
a odisseia existencial do artista
a luta cotidiana as pessoas comuns
a curva da vida o caminho místico do herói
os podres de ricos os pobres diabos os remediados
todo mundo é um herói

cada ser sua épica
cada ente um universo
cada rês o Umbigo do mundo
 
e o cosmo desumbigado esparramado no éter
engole as reses todas em sua bocarra
      de eras e alqueires sem fim
como a baleia azul aspira o plâncton
sem saber
dos risos e calos de cada bicho
do belo Umbigo de cada bicho

sem saber     nem mesmo     de sua infinita
potência de cosmo a engolir os ínfimos
ciscos      efêmeros      que somos nós



19 setembro, 2021

Filosofias do hippie veio

Eu conheci um velho vagabundo que andava por aí sem querer parar. Quando parava, ele dizia a todos que o seu coração ainda rolava pelo mundo. 
(Sá, Rodrix e Guarabyra)

Quem diz que gosta de trabalhar: 

Tá mentindo pra fazer bonito, tá mentindo pra ele mesmo ou é desinquieto de natureza e trampa pra aliviar. 

De todo jeito tá doente bicho, fudidão, dodói demais da cabeça, fatigado do corpo e desinfeliz do coração, coitado.

***

Eu num tenho pressa de chegar. 

Nem hora de chegar. 

Num tenho nem aonde chegar. 

Na real bicho, eu nem sei o que é chegar!

***

Que hora é agora?

Ué! Hora de descansar

***

Onde eu moro? 

Em riba das butina.

***

De bicho eu gosto é do gato, bicho. 

Aí, toda hora é hora do bichano puxar uma palha.

***

Duas coisa que me tira do sério: 

trabalhar em casa e trabalhar fora de casa.

***

O que que eu quero pra vida daqui 10 anos? 

Bicho, num sei nem onde eu vou tá daqui 10 dias!

***

Eu sou é rico demais. Tenho toda estrada do mundo. 

Quer mais? Todo tempo, todo vento, todo sol e toda chuva. E à noite, a lua inteira e toda estrela do céu que cê puder contar. 

Tudo meu!

***

Não é porque eu sou hippie que num tenho meu pedaço de chão. É bem aqui, ó! E muito bem medido! Quer ver?

Pega um barbante, corta um metro, engancha nas minha butina e risca um disco em vorta. 

Viu? É meu latifúndio. 

***

Ah! ninguém tem mais terra que eu! Onde eu piso o chão é meu.

***

Não, não, não, precisa de grana não! Me passa o peixe que eu te volto o colar.

28 agosto, 2021

Xepa geral

O mundo em clima de xepa
De feira fim de festa
Tempestades de raiva
No calor infernal das cidades

O mundo que resta é rio quebradiço
Sem fonte ou sentido de mar
Marquises desabam
Nas calçadas da feira
Nas cabeças que passam
Uma leve lembrança
Um paraíso esquecido um sabor de niilismo
Na maçã do rancor
Caída
Entre barracas e moscas
Rolando lambuzada
Num apocalipse de piche

Xepa do mundo fim de feira
Reses caídas
Nas grotas de algoritmos
Ao ritmo das vitrines
Reses perdidas
No labirinto de espelhos das trocas
De olhares moedas e modas

Narciso surdo narciso
Narciso surdo e cego
Narciso despenca um mundo
De água e você vidrado
No espelho quebrado da fonte
Que não existe mais
Ou houve somente em eco?

Fonte arrastada no enxurro
Da xepa das feiras de tudo




14 julho, 2021

As tripas fascistas

 

ironia escatológica de uma obstrução intestinal


não desejo o seu fim
afogado na merda
que você sobreviva
e apodreça na cela

não desejo o seu fim
afogado na merda
mas não vou lamentar
se for sua hora

em todo caso
afogado na merda
há de ser o seu fim
seja a hora que for

pois seu dentro é puro
intestino e cocô
e em sua merda de vida
você só faz merda
                                  seu Merda
                                                        Genocida!







12 julho, 2021

Os desaparecidos

Não derramemos falsas lágrimas pela primeira vez que desapareceram no frio espiritual da cidade para perambularem invisíveis por ruas e praças.

Nem choremos agora seu segundo desaparecimento, quando o frio da madrugada petrificou-lhes os corpos supérfluos.

Não caiam de nós lágrimas hipócritas pelos caídos da urbe, bagaço há muito esquecido.

Choremos por nós, os bem nascidos e criados para a dignidade cidadã de funcionar como narcisos frios consumidos por balcões e vitrines, corpos dentados hábeis e adaptáveis às funções que nos honram, mecânicas almas vivas(?) esquecidas da dor do desaparecimento dos desamparados, peças impassíveis da máquina abstrata de cifras que mastiga suores e cospe um bagaço de corpos invisíveis.

Choremos por nós, úteis e visíveis (e visíveis porque úteis), incapazes de nos compadecermos pelos desaparecidos que definham incógnitos nos labirintos das cidades.

Choremos por nós, desaparecidos de nós mesmos nos labirintos da utilidade.



01 julho, 2021

o segundo desaparecimento

morreram de hipotermia

na madrugada fria

do pais tropical

mas existiam?

quem os via 

nas vias

viadutos e calçadas?

quem deu falta

do que não havia?

 

Mendicantes do parque (Iberê Camargo)

08 maio, 2021

por um delírio

a vida atravessou-me a pele
o corpo estava no mundo
mas eu não

a musica triste e alegre
irradia uma canção que fui
e não existo mais

pedra no meio do destino
sina à margem da vida
menino sem tino

só (o) sabe esse grito
silêncio feito de imagens
nas águas salgadas da página

suspiros e mágoas em falso
menino fausto
um'alma

por um delírio


 

21 março, 2021

lá entre nós

como ser louco dentro
se dentro está vazio
cheio somente de contas
bolsos e cifras no cio?

ah! mas há
um outro dentro
dentro do dentro
(ou ao lado sabe-se lá)
uma sombra cheia de monstros
que volta e assombra o centro
e arromba as portas do mundo

o poeta é um louco
                                   agora
                                              da boca
                                                            pra fora

cá entre nós

Decalcomania - René Magritte
os poetas são pessoas normais
carro cachorro supermercado
bom dia tudo bem como vai
só uns poucos
centímetros fora do centro
sensível alma que-
brada demais
o poeta é só
                 um desses
             loucos
       para
dentro



20 março, 2021

Capitalismo e (não) sentido

Vazio pós-moderno

O vazio psíquico pós-moderno, a sensação de que a vida que se vive não tem sentido humano, nada mais é que a plenitude do Capital, da alma adestrada como sujeito automático, voltada primariamente para a produção de valor. O vazio humano da pós-modernidade é a realização plena do Capital.

Certamente não há sentido no universo e a Terra é um escuro cisco esférico perdido em meio a bilhões de galáxias. Não há, tampouco sentido no interior deste pequeno cisco em que vivemos. A Natureza por acaso nos gerou e nos desconhece completamente.

Mas o ser humano é um ser de sentido. A consciência é um animal à caça de sentidos e, ao mesmo tempo, uma fábrica de significação. As pessoas inventaram os deuses para preencher o mundo de sentido, para fazer sua existência ser mais que um simples existir casual.

O capital talvez seja o primeiro Deus criado pelos homens que esvazia o mundo de sentido e converte homens e natureza em instrumentos para reproduzir sua forma quantitativa e abstrata.

A concretude da vida em comum é o único sentido que resta ao ser humano, desde sempre. E o avanço do Capital sobre todos os povos da Terra e esferas da vida corrói e, por fim, quebra esta frágil camada de sentido que sustenta a vida comunitária. Quebra as culturas do sentido pré-capitalistas e instaura a modernidade (e pós-modernidade), como cultura da forma vazia, que retira do humano o chão do sentido.

Sob o Capital, o ser humano se torna um autômato cujo cerne é a razão instrumental e a competitividade. Voltados para multiplicação da forma vazia do Deus, as pessoas se tornam também formas vazias indiferenciadas - forma sujeito cujo núcleo é o sujeito automático (Capital).

Não à toa, o fascismo emerge como reação destrutiva e autodestrutiva à retirada de sentido e concretude existencial que o capitalismo promove nas sociedades humanas.

O sentido é a comunidade

Se não há sentido fora do humano, tampouco o há no indivíduo que, de resto, é apenas um animal frágil muito mal aparelhado pelos instintos, uma continuidade débil da natureza.

O sentido da humanidade, portanto, está na unidade comunitária, na cultura de um povo, na sociedade como uma totalidade para além dos indivíduos que a compõem.

O capitalismo, por sua vez, funda uma cultura cujos laços sociais se fazem por meio da forma vazia da mercadoria, às expensas de qualquer sentido. A modernidade é uma cultura que fragmenta o humano em indivíduos isolados que se ligam entre si pela janela exclusiva da lógica da mercadoria.

De onde viemos? Para quê vivemos? Para onde vamos? Como devemos viver? A resposta verdadeira (e frustrante para os seres humanos) a todas estas questões fundamentais é simples na modernidade: somos filhos do Capital, vivemos e morremos por ele e devemos viver sob suas leis. Pois ele é o cimento de nossa sociedade, é o que dá sentido e unidade a ela. Mas se trata de um sentido vazio e de uma unidade fraturada.

A unidade do capital se funda na separação das pessoas tornadas partículas racionais e competitivas entre si, cujo modelo moderno é o individualismo burguês, e o pós-moderno é o narcisismo de classe média, massivo a ponto de estruturar, na atualidade, a psique dos pobres (que se vê como auto-empreendedor). A unidade do capital é, paradoxalmente, a da fragmentação indiferenciada dos sujeitos abstratos.

A sociedade capitalista que se relaciona apenas pela lógica mercantil é, em sua concretude, essencialmente fraturada e se constitui como coletividade apenas no nível abstrato do Capital, pois os vínculos e relações sociais que a regem são constituídos pelo valor, o trabalho abstrato e a mercadoria. Estas categorias são essencialmente formais e vazias de sentido, ou melhor, podem ser preenchidas com quaisquer sentidos que não questionem a centralidade do capital.

Mas esta plasticidade extrema do sentido, que permite à cultura capitalista absorver todas as outras e (re)formá-las segundo a lógica formal da mercadoria, relativizando as tradições e conteúdos dos povos, coincide, afinal, com a ausência de sentido. Por conta dessa hegemonia da forma, da abstração e da quantidade (pois o Capital é também uma grandeza quantitativa), o capitalismo é incapaz de se constituir como uma comunidade concreta e, portanto, de construir sentidos para si.

Obs.: E novamente o fascismo reage ao vazio de sentido e à quebra comunitária do capitalismo, erguendo suas comunidades cimentadas pelo ódio, medo e ressentimento, cujo sentido (como significado, mas também como rumo, objetivo) passa a ser a insanidade da guerra e do morticínio, a destruição pela destruição e, por fim, o auto-aniquilamento.


In: Política e sujeito no capitalismo em colapso

11 março, 2021

os mortos se amontoam

o fascismo fascina
contagia as gentes
e a pátria apática
não decifra as cifras
das frias telas
do agora em trevas:

píxeis piscam
milhares de olhos
tolhidos de brilho

gráficos gritam
as vozes pálidas
agora apátridas

a
pátria
o logro do ogro
um campo de corpos
onde os mortos se amontoam
os mortos se amontoam os mortos
se amontoam os mortos se amontoam os
mortos se amontoam os mortos se amontoam
os mortos se amontoam numa montanha de mortos

04 março, 2021

O Deus-Natura, a Dádiva e o Capital

Da consciência do Deus

É preciso acabar com alguns preconceitos acerca dos deuses. Um Deus não precisa saber do outro e de si. Não é necessário que tenha consciência, que seja piedoso ou perverso, moral ou imoral, como Espinoza já demostrou.

Um Deus não deixa de sê-lo por ser inconsciente, como é o caso do Capital. Consequentemente, esse Deus é  amoral, indiferente e frio ao devorar seus filhos (nós) para se reproduzir, isto é, para permanecer idêntico a si.

Da eternidade do Deus

Um Deus também não precisa ser eterno, ou melhor, ele precisa ser “eterno enquanto dure”, como diria o poeta. A estrutura a que chamamos capitalismo é histórica. Ela emerge, como proto-capitalismo no fim da Idade Média e se consolida como estrutura acabada na Inglaterra da Revolução Industrial, para se expandir e tomar o mundo todo nos próximos séculos, graças a superioridade técnico-militar dos povos mercantilistas e capitalistas em relação aos outros, não capitalistas.

O Capital é um Deus recente, cujo nascimento se deu no fim do século XVIII, após uma gestação de séculos. Mas depois de seu nascimento, enquanto houver capitalismo, ele será sempre o Mesmo, idêntico a si, ou seja, eterno.

O Deus-Natura, a Dádiva e o Capital

Talvez o Capital seja um Deus da categoria do Deus-Natura de Espinoza e da Dádiva do famoso ensaio de Marcel Mauss: um Ser (natural ou social) inconsciente e onipresente que constitui e governa o mundo com suas leis férreas. No caso do Deus espinozista, trata-se do governo geral do cosmo. No caso da Dádiva e do Capital, trata-se do governo do mundo social, ou cultural - para usar o termo dos antropólogos.

A Dádiva e o Capital são formas sociais construídas de forma coletiva e inconsciente pelas sociedades, mas que acabam por se autonomizar e governar o mundo social e psíquico dos seres humanos. Mauss sugere que, antes do capitalismo, a “economia” da Dádiva era a forma social que governava as mais variadas culturas, principalmente as chamadas primitivas, que não conheciam o estado. A Dádiva seria, no dizer de Mauss, um fato social total, que fundava e guiava os comportamentos, a organização social, as mentalidades, os afetos, as crenças, os meios de produção, as trocas etc.

A Dádiva variava de cultura para cultura e Lévi-Strauss certamente ambicionou, com seu estruturalismo, achar-lhe a forma geral, o Deus-Dádiva universal por detrás dos mitos particulares. Em todo caso, a Dádiva, como fato social total, constituiria o fundamento de muitas (talvez todas) culturas pré-capitalistas, segundo a hipótese de Mauss.

In: Política e sujeito no capitalismo em colapso

01 março, 2021

As pessoas não sabem do seu Deus

As pessoas não sabem do seu Deus

Não há evidências de que existam deuses sobrenaturais e os que neles creem se fiam na fé para afirmarem sua existência e poder.

Marx, no entanto, provou a existência do Capital como motor imóvel (Deus) do capitalismo, descobrindo, inclusive suas leis tendenciais que a história não cessa de confirmar. Descobriu, portanto, a estrutura (capitalismo), seu centro (Capital) e sua gramática (leis). Mas quase ninguém, principalmente os economistas  do sistema, sabe ou quer saber da verdade sobre Capital, essa forma social que funciona efetivamente como um Deus cego, abstrato, quantitativo e voluptuoso. Quase ninguém quer ver esse sujeito automático que nos moldou à sua imagem e semelhança e nos move desde o fundo da alma.

Um Deus inventado por nós, como todos os deuses, mas que, mais que os outros, efetivamente dá forma e movimenta o nosso mundo de acordo com sua vontade. O primeiro Deus que existe objetivamente e de forma autônoma dos seres humanos e que, por isso, não necessita de crença, templos ou sacerdotes-vigias instituídos.

O capital não necessita nem mesmo que se saiba dele. Aliás, ele existe e se reproduz melhor quando as pessoas não sabem dele e de sua onipotência. Assim podem fantasiar que creem e se guiam por deuses e crenças mais afetivos ou úteis à humanidade, como Cristo, Alá, Razão, Ciência e outros. Fantasiam servirem a outros deuses quando suas ações, afetos, moral e visão de mundo são constituídos e mobilizados, de fato, pelo Capital: Ser indiferente às pessoas e suas angústias e que as instrumentaliza para sua reprodução.

O Capital é um Deus?

Moishe Postone, em Tempo, trabalho e dominação social, mostra que há duas temporalidades do capitalismo: o tempo abstrato do capital e o tempo histórico do mundo. O primeiro, assentado no tempo cronológico do relógio, não muda nunca e é o fundamento do valor, que se define como a quantidade de tempo de trabalho necessário para produzir uma mercadoria qualquer. O tempo histórico, por sua vez, se acelera sem parar, pois quanto menos tempo de trabalho for necessário para se produzir uma mercadoria (quanto maior a produtividade do capital), mais barata ela se torna e o primeiro capital particular que conseguir a proeza tende a dominar o mercado. E para isso acontecer é necessário avançar a técnica de produção e a ciência constantemente, substituindo trabalho vivo por máquinas.

Esta revolução técnico-científica permanente do capitalismo acelera o tempo histórico para que o tempo abstrato do valor continue o mesmo. Moishe Postone denomina o capitalismo de totalidade direcional. Talvez fosse mais correto dizer que se trate de uma estrutura, cujo centro é o Capital e seu tempo abstrato, sempre idênticos a si mesmos, enquanto a periferia é o mundo (humanos, técnica, máquinas, natureza) que se  organiza e se desenvolve segundo as leis do Capital, o qual, para permanecer idêntico a si (atemporal), necessita que o tempo histórico do mundo avance de forma acelerada.

A estrutura pressupõe um centro, um ser, um motor imóvel sempre idêntico a si e que produz a gramática (lei) que governa o movimento estrutural. No capitalismo, o Capital é este centro atemporal, onipotente e onipresente.

Se isso não for um Deus, o que seria?

In: Política e sujeito no capitalismo em colapso

28 fevereiro, 2021

Os iconoclastas modernos são crentes involuntários

“Tudo que é sólido se desmancha no ar”. Sob o capitalismo o tempo histórico se acelera de tal forma que a mudança se torna rotina. Ciência, técnica, vida cotidiana, costumes, moral, visões de mundo, tudo se encontra em permanente transformação.

No campo do pensamento não é diferente, a começar pela filosofia que demoliu a teologia e, num processo de revolução interna permanente, demoliu todas as sua ontologias, criticando impiedosamente o pensamento do Ser, da Estrutura, da Razão, do Sujeito e da Ideia.

Nas esteira dos demolidores do Ser da filosofia, cujo maior representante é Nietzsche, todas as humanidades e ciências sociais recusaram o pensamento do Ser, seja ele anterior à modernidade, que se afirmava explicitamente como grande narrativa, sejam o que surgiu no seu decorrer, como o marxismo e a psicanálise, que se propunham escapar das armadilhas ontológicas do Ser.

Os intelectuais do pós-modernismo, auge da crítica e demolição do ser, reprovavam as ideias de Marx e Freud que, sob o disfarce relativístico da historicidade e do inconsciente, não passariam de grandes narrativas trans-históricas e etnocêntricas, fundas, portanto, no Ser.

O fato é que todas essas demolições em série, de demolidores que destroem os edifícios anteriores de outros demolidores, num processo contínuo (afinal Marx e Freud foram demolidores em seu tempo), prestou um grande serviço ao Capital, ao varrer as velhas concepções de mundo atreladas a suas fases obsoletas da modernidade, para o surgimento de novas estruturas de pensamento, necessárias aos constantes renascimentos do capitalismo.

A fúria contra o Ser, que marca o pensamento moderno, limpou incessantemente o terreno espiritual da modernidade de todos os Deuses: Jeová, Alá, Cristo, Razão, Trabalho, Eu, Sujeito etc.

A ironia é que (com a exceção da teoria do valor-trabalho de Marx) toda essa assepsia ontológica quase nunca desvendou e menos ainda criticou o Ser dominante da modernidade capitalista: o Capital. E ainda o reforçou, ao demolir seus incômodos concorrentes.

Todos os filósofos da morte de deus, da negação do ser e da superação das grandes narrativas se recusaram a olhar na face do Deus Capital para desconstruí-lo. Antes de Marx, nem sequer o imaginaram, como é o caso de Nietzsche. Depois de Marx, desdenharam de sua descoberta, como Freud, Heidegger e os pensadores do pós-modernismo, ou não deram o devido peso à sua teoria do valor-trabalho, que desvenda o capital como centro estrutural da vida moderna: é o caso do pós-estruturalismo francês, à exceção de Deleuze e Guattari (mas mesmo estes dois não partiram da teoria do valor-trabalho).

Essa cegueira, voluntária ou não, ao Deus de fato da modernidade (o Capital) transformou os demolidores de deuses ajudantes da construção do novo reino sagrado, o capitalismo. Ao limpar a terra dos deuses celestiais (Cristo, Jeová, Alá) e terrenos (Razão, Homem, Eu), abriram caminho para a ascensão do novo Deus.

In: Política e sujeito no capitalismo em colapso

14 fevereiro, 2021

Há um muro que à frente se amontoa (Por Álvaro Assis)

Há um muro que à frente se amontoa
Uma parede sem portas e janelas
Um sepulcro lacrado sem arestas
Contra isso, um homem pré-moldado
Sem vergalhões, embora a ferrugem
Deixou de imaginar o túnel, deixou de imaginar as trepadeiras, deixou...
Está lá e pronto, sem picareta, sem ponteiro
Não anseia desenhar com tijolo um ponto de fuga
Ou fazer corda de lençóis
Tem apenas uns poucos pregos no bolso e a testa como martelo
Quanto mais se aproxima, mais o muro cresce
Quanto mais se distancia, tanto mais as pernas se conformam

Primeira impressão

Uma imagem forte dá início ao poema. O muro se forma por si, como barreira intransponível, prisão-sepulcro do homem, cujas armas para superá-lo são uns poucos pregos e sua testa-martelo. Mas ele não tem armas por que é a realidade ou por que não deseja um "ponto de fuga" ou uma "corda de lençṍis"? É o muro da existência? A pedra no caminho? Barreiras sociais? Frustrações, desencantos, impotências do humano? O muro parece ter vida (quanto mais se aproxima mais o muro cresce), animada pela vivência do homem, que faz o muro crescer diante da possibilidade de sua liberdade, da aproximação dos limites autoimpostos. Quando se distancia do muro o homem se conforma, se acomoda em sua prisão-sepulcro. Pode até ser o muro do capitalismo, da sociedade da mercadoria... A linguagem é direta, mas onírica, atravessada por cortes semânticos e justaposições de imagens. Versos longos com uma bela sonoridade. Atentar para a aliteração em "r" em todo o poema e principalmente nos três primeiros versos: o amontoar da consoante (presente em "muro") ressoa o amontoar do muro de que os versos falam.

Poema recolhido no Mallarmargens.

13 fevereiro, 2021

Franklin (por Caio Resende)

O que sei? O que não sei?
O caminho é sempre breve.
Poucos olham ou sentem.
Isso é a vida: ser é uma pausa.
Trago a ruína de outras manhãs
e um precipício ancorado na língua.
A persistência inconsútil
do que é lida e distância,
do que não é a clériga calmaria
de domingos em família.
Ouço o crepitar dos anos
e procuro a minha face,
como se uma mão gestada na sombra
tocasse o útero de uma palavra.
Nunca fomos exatos.
O que nos orbita é vagaroso desapego.
Uma tarde – aquela. O conhaque,
o outono de um sorriso.
E me acho bem com os mortos –
calar é minha única ciência.
Nossa natureza ecoa das coisas.
Viver é ser vasto de ausência. 

Primeira impressão:

Não conhecia o autor. No começo me pareceu poesia (à moda) de velho: quem usa, num mesmo poema, palavras como inconsútil, crepitar e clériga? O último verso me lembrou Fernando Pessoa, mas me parece um autor com voz própria. Ando muito desconfiado de poemas contemporâneos em primeira pessoa, que costumam ser auto-elogiosos e auto-afirmativos em demasia. O eu lírico pós-moderno parece narcísico demais, prefiro os eus drummondianos auto-corrosivos e desiludidos de si. Mas o eu lírico neste poema, embora não seja irônico nem decadente, é contido, sóbrio e grave, estóico-heróico. A linguagem simples e direta ressalta as boas imagens como "vasto de ausência" e "precipício ancorado na língua".

Recolhi o poema do Mallarmargens.

27 janeiro, 2021

A poesia bonitinha

Não tenho mais paciência
para poemas bonitinhos
em eruditas belas-letras
de/pra gente culta e elegante.
Parece que todo os bons
poemas belos e singelos
já foram feitos por Quintana
Vinícius, Bandeira e Drummond.
 
Prefiro a música brega
dos cantores da sofrência,
que sabem, como seus fãs,
que suas canções descartáveis
são só entretenimento,
mercadoria de ficar rico
famoso, chique e bonito.

Prefiro os poetas malditos
(se é que ainda existem)
e seus poemas-gritos
cheios de arestas e espinhos,
que sabem, como a meia dúzia
de gatos pingados que os leem
(se há quem ainda os leia),
beber d'aguardente do mundo 
e cuspir pelas cabeças
uma chuva de balas-letras.
 
Não tenho mais paciência
para a poesia fofinha,
adestrada de academias,
de esteta para exegeta,
com respeito e fidalguia
no conchavo das belas-letras.
Não tenho mais paciência
para a poesia bonitinha!
 
 

 

21 janeiro, 2021

As lutas de resistência dos uberizados

Uma coisa me intriga na resistência dos trabalhadores uberizados/precarizados à superexploração de seu trabalho. Esses grupos de resistência não formam uma coletividade como o sindicalismo tradicional, que propõe, pelo menos em teoria, a solidariedade como base da sociedade, com ideias coletivistas e ações políticas em favor de reformas (nem digo revolução) humanitárias do capitalismo, que beneficiam sua categoria, sim, mas também todo o conjunto da população. Essa visão universalista da solidariedade permitiu, no passado fordista, a união dos sindicatos com outros setores progressistas, inclusive industriais, na construção de um projeto social-democrata que tentava ao menos frear a dinâmica excludente e concentradora do capitalismo.

A resistência dos uberizados ao novo capitalismo digital pós-fordista, ao contrário, se baseia numa solidariedade restrita a seus próprios pares e visa quase que exclusivamente o ganho monetário: são raras as movimentações por direitos coletivos, como limites à jornada de trabalho, carteira assinada, previdência etc. Uma solidariedade que eu até classificaria como doentia, pois nutre, em relação a outras categorias mais bem remuneradas ou formalizadas um certo ressentimento que, não raro, extravasa para o ódio. Ódio que também é direcionado à política institucionalizada e aos políticos de carreira, inclusive os progressistas que, em sua visão, além de corruptos, pouco fazem pelo trabalhador e, quando fazem, é para os formalizados e funcionários públicos. 

Trata-se de uma resistência reacionária, baseada no individualismo e na visão de si como capital individual (auto-empreendedor) que não necessita da luta coletiva e nem mesmo da coletividade para viver, pois consideram que se os “corruptos” e “interesses ocultos” não atrapalhassem, poderiam viver por conta de seus próprios méritos e sua  vontade férrea de trabalhar. A revolta acaba por se tornar moralista (do empreendedor honesto contra os parasitas corruptos) e baseada em teorias da conspiração (os interesses ocultos de grupos sociais malvados), de caráter reacionário e, no limite, em casos de crises agudas como agora, se torna fascista.

O reacionarismo de longa data de grande parte dos taxistas e caminhoneiros (categoria que militou massivamente em prol da eleição de Bolsonaro e cuja greve no governo Temer foi marcada por posições fascistas), assim como o de profissionais liberais (por ex. médicos e advogados), o reacionarismo destas categorias tradicionais se espalhou, na era do capitalismo neoliberal e do trabalho precário, para todos os trabalhadores uberizados, que não apenas se veem, mas são subjetivamente constituídos, de fato, como capitais individuais. A visão de mundo dos antigos "autônomos" é, nos dias de hoje, a de todos os precarizados e, no limite, a de quase todo mundo, já que o destino de todas as profissões, inclusive de quase todas as carreiras de estado, é a precarização.

O sujeito assim constituído, como capital individual (auto-empreendedor), independente de sua profissão ou classe social, é o estado de arte da subjetividade capitalista, a última e mais evoluída fase da forma sujeito, cuja realidade psíquica atual finalmente coincide com o seu conceito inicial, posto pelo capitalismo desde sua aurora em fins do séc. XVIII: a subjetividade totalmente absorvida pelo sujeito automático (o próprio capital subjetivado) e inteiramente dedicada à razão instrumental e à competitividade, cujo objetivo maior é o ganho, ou seja, a reprodução do capital. 

A revolta da subjetividade uberizada (auto-empreendedora) não pode ser mais conscientemente contrassistêmica, nem mesmo em seu aspecto reformista, afinal, não há o que reformar ou humanizar nas regras de mercado, uma vez que a humanidade das pessoas no capitalismo neoliberal se define por estas regras e com elas coincide. A perspectiva crítica se torna impossível ao sujeito uberizado, pois sua visão de mundo é formada (constituída) pelo sistema desde as bases de sua psique, e é por suas grades de sentido que ele vê o mundo social e suas contradições. 

Na impossibilidade de criticar o sistema, mesmo de uma perspectiva reformista, sua revolta se torna, então, moralista, reacionária e, em momentos desesperadores, fascista, que é uma forma inconsciente, irracional e destrutiva de negar o capitalismo. Mas também de negar e destruir a si mesmo, já que o capital se consolidou como o núcleo da subjetividade de toda a gente.

***

O problema dessa rigidez psíquica do sujeito uberizado, cuja estrutura mental coincide, agora, com o capital, é que a realidade do capitalismo atual é a de desvalorização do valor, concomitante à desvalorização do trabalho produtivo de valor, cada vez mais substituído pela automação. A resultante dessa crise estrutural do sistema produtor de mercadorias é um choque entre, de um lado, a realidade social que marginaliza e torna supérflua a maior parte das pessoas, cujas capacidades laborativas não interessam mais ao mercado, e, de outro lado, a mentalidade ultracapitalista dos indivíduos, que idealizam o livre mercado como o um ambiente natural e amigável para as "pessoas de bem", que são as trabalham e empreendem nele de forma honesta e dedicada.

Esta contradição externa entre o interior psíquico e exterior social, ou seja, entre a mentalidade empreendedora constituída de forma a acreditar que o sucesso depende apenas do esforço honesto, e a realidade que exclui da vida social cada vez mais "pessoas de bem", esforças e honestas, esta contradição entre dentro e fora faz despertar uma outra, que se desenvolve no interior do psiquismo do homem moderno e pós-moderno. É a contradição interna entre o sujeito automático e os aspectos psíquicos que precisam ser reprimidos para  que ele seja o senhor da mente humana. 

No interior da subjetividade, o capital, ao capturar o psiquismo, agencia-o como sujeito automático, configurando e promovendo a centralidade de dois atributos essenciais para a pessoa se tornar um trabalhador (ou proprietário) útil, à reprodução do capital, que são a racionalidade instrumental e a competitividade. Todos os demais aspectos da psique humana, como a afetividade, a ludicidade, a empatia e as tendências comunitárias são subordinadas aos dois atributos centrais. Para isso, devem ser severamente restringidos em seu desenvolvimento, disciplinados e adestrados para servirem ao capital, causando um grande mal-estar psíquico, que se expressa na sociedade moderna como tédio, indiferença, ódio, angústia e/ou ansiedade, os quais, não raro, resultam em escapes individuais, como é o caso dos vícios de várias espécies, em compras, redes sociais, jogos de azar, videogames, drogas, comida etc. 

Ambas as contradições são em boa parte inconscientes, mas a contradição interna é praticamente imperceptível aos sujeitos e sua dinâmica de recalque se desenvolve de forma quase autônoma no inconsciente psíquico individual, mas também da coletividade, uma vez que a forma sujeito, embora implique na atomização dos indivíduos, é coletiva. O adestramento para o capital e a repressão de aspectos essenciais da psique humana, como a ludicidade e a empatia, por exemplo, empurra-os para o inconsciente, onde eles formam um "duplo sombrio" da psique consciente, cujo desenvolvimento se dá sob as rédeas do medo e do ódio, como costuma acontecer  com todos os conteúdos reprimidos. São esses "demônios interiores" do psiquismo individual e coletivo que emergem como fascismo nas crises existenciais do capitalismo, como a que estamos vivendo.

E são esses "duplos sombrios", esses "demônios interiores" que parecem irromper como solidariedade doentia (que necessita do ódio ao outro) e irracionalidade nas revoltas reacionárias dos uberizados e precarizados, sujeitos empreendedores cuja crítica consciente ao capitalismo como sistema é bloqueada por sua estruturação psíquica centrada no capital (sujeito automático).


06 janeiro, 2021

Reza vermelha

Cada cristão sua cruz,
cada povo sua esfinge.
 
Se eles têm Moisés e Jesus
também temos nosso judeu,
maluco beleza barbudo
prevendo futuros de abismos
que desabam neste agora
arruinando os paraísos
propagados pela (publi)cidade,
arruinando a felicidade
eterna da (pós)modernidade
com a força dos terremotos
e a surpresa dos meteoros.

Cada cristão sua cruz,
cada povo sua esfinge.
 
Se eles têm Moisés e Jesus
também temos nosso judeu
com sua fé profunda no Deus,
mas em vez de adorar esse Deus
nosso santo judeu O pragueja
e nos prega o abandono do Deus.
Ó filho bastardo de Germânia e Judá!
Ó filho herege da sacra burguesia!
Ó excomungado que é nosso guia!
Ó pecador d'alma odiado das gentes
e que amamos tanto! Ó profeta
escatológico da crise e do chash,
acusador do cu sujo do Deus
das cifras e suas cagadas fétidas
que infectam a alma do povo,
que rapam a pança do povo,
que trincam a esperança do povo!

Cada cristão sua cruz,
cada povo sua esfinge.

Se eles têm Moisés e Jesus
também temos nosso judeu
se lançando a desertos modernos,
desafiando $ibilina$ $erpente$,
nos alertando da Esfinge fingida
que nos tenta com ouros e mirras
e nos incensa de lírios narcisos,
mas que do fundo da alma malvada
nos fita com olhos ferinos
e em meio a saliva e ironia
sua bocarra nos desafia
a nós gentio mui devoto
de Nossa Senhora da Mercadoria:
 
ou me de$
ou os devoro.

O engenheiro onírico

Quando eu era menino, adorava brincar de carrinho.  Então, construía estradas, pontes, estacionamentos, postos,  calçadas e ruas, tudo muito...