Áureo alvorecer, por Franco Átila

você destruiu todos os sentidos pessoa
com seus labirintos infindáveis sem novelos sem meadas
mil minotauros se multiplicando derrubando a unidade do reino de si mesmo
quem sou eu desconhecido de mim mesmo
você derrubou as metafísicas matou os deuses nietzsche
há apenas a vontade de poder aquém de nossa vontade
nem mesmo o deus homem restou
a terra não está mais imóvel no centro do mundo
o homem não é mais o filho de deus seduzido pela serpente
o anticristo está a solta
as estrelas se movem os seres estão no continuum das transformações químicas
átomos se desintegrando e recompondo-se ao acaso das eras
genes se lançando na loteria das adaptações
como um vírus uma bactéria um mamífero um primata que se vê a si em abismo
em meio ao fluxo bioquímico em meio a deuses e mitos
caminhando rumo ao nada em meio ao bando à tribo à pólis
vocês que destruíram tanto     pessoa nietzsche galileu
em nome da dúvida eterna da ciência do niilismo
em nome dos abismos do ser     onde o ser não é
em nome da liberdade do homo sapiens transmutado em super homem
a utopia dos homens senhores de si perdidos de si
entregues a paixões incontroláveis que os lançam como tomates
esborrachados no muro sem sentido da vida que finda
na morte sem nenhum além
a coragem de caminhar na beira do abismo na vida sem crer
em aléns
ou aquéns
a coragem de ser indiferente a qualquer deus a coragem de matar
o deus a metafísica o todo o uno o eterno o sentido
os dadas os surrealistas os cubistas os concretistas
a morte do metro e da grandiloquência
o advento do coloquial e do discursivo na poesia
a quebra do discurso da fábula o fluxo de consciência
a ciência como abertura à refutação a incerteza é a regra
a virtude é a dúvida o macho adulto branco não é mais o centro
não há mais centros hierarquias estruturas derridas e deleuzes
adeus todos os deuses
mil derrubadas por segundo

as quebras
os desmanches
os ídolos derrubados
as críticas mais ferinas e corrosivas
tudo
para emergir do caos civilizacional
o Deus que de fato existe
independente de qualquer crença
Pai único e verdadeiro
a pairar sobre o asfalto e o cimento
o soberano cego frio e implacável
o Deus que nos ignora a nós
que O adoramos
o indestrutível porque incorpóreo
o inapreensível porque infinito
o incognoscível porque invisível
aquele por quem mudamos quebramos e destruímos
a nós e ao mundo
para que Ele possa permanecer uno e eterno consigo mesmo
Motor Imóvel que nos mói   (homens (pós)modernos   ápices da civilização)
na sua maquinaria implacável
o Ser em sua perfeição
Mamon



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