Caçamba
Há os que limam ferozmente as palavras embora mintam que o fazem pacientemente. Há os que se deixam tomar pela ferocidade do verbo crendo (cândidos) que são beijos suaves da língua encantada das musas. Mas desconfio que nem estes nem aqueles nem ninguém sabe os modos e os motivos dessa fera que é ritmo espanto e mal-entendidos. Há ainda as coisas as bocas o mundo de onde as palavras brotam e para onde gritam e se deságuam tão necessárias quanto impotentes. Limar palavras é limar o ser das coisas até o osso do ser ou seria uma camada a mais do parecer acrescida ao ser que talvez nem haja? Este olhar táctil e agudo às coisas e seus absurdos se escreve de ouvido se sente com o fígado mas não desvela o mistério das ruínas do mundo. O canto que se canta é mais uma caçamba a despejar seu entulho de enganos e enigmas no caos do monturo insondável da vida.