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Mostrando postagens de janeiro, 2025

Caçamba

Há os que limam  ferozmente as palavras embora mintam que o fazem pacientemente. Há os que se deixam tomar pela ferocidade do verbo crendo (cândidos) que são beijos suaves da língua  encantada das musas. Mas desconfio que nem estes nem aqueles nem ninguém sabe os modos e os motivos dessa fera que é ritmo espanto e mal-entendidos. Há ainda as coisas as bocas o mundo de onde as palavras brotam  e para onde gritam e se deságuam  tão necessárias quanto impotentes. Limar palavras é limar  o ser das coisas  até o osso do ser ou seria uma camada  a mais do parecer  acrescida ao ser que talvez nem haja? Este olhar táctil e agudo às coisas e seus absurdos se escreve de ouvido se sente com o fígado mas não desvela o mistério das ruínas do mundo. O canto que se canta é mais uma caçamba a despejar seu entulho  de enganos e enigmas no caos do monturo insondável da vida.

Horizonte de contágio

Eu odeio este país cheio de pobres negros ignorantes bichas vadias sapatas macumbeiros... Eu odeio ainda mais esta praga de brancos classe média ricos liberais sofisticados héteros cristãos conservadores... Eu amaria um país fervilhando corpos frágeis e efêmeros como são os corpos todos fervilhando pessoas cada qual seu jeito seus defeitos seu nexo e sexo sagrado deus seus eus manias e alegrias tribo e ritos seu gosto e desgostos seu tino desatino destino que a pessoa qualquer  possa e tenha  (mesmo) exatamente o mesmo que qualquer outra pessoa mesmo sendo cada uma uma distinta pessoa... Eu amaria um país contagiado de pessoas.