19 janeiro, 2025

Fera

Há os que limam 
ferozmente
as palavras
embora mintam
que o fazem
pacientemente.

Há os que se deixam tomar
pela ferocidade do verbo
crendo (cândidos) que são
beijos suaves da língua 
encantada das musas.

Mas desconfio que nem estes
nem aqueles nem ninguém
sabe os modos e os motivos
dessa fera que é ritmo
espanto e mal-entendidos.

Há ainda as coisas as bocas o mundo
de onde as palavras brotam 
e para onde gritam e se desembocam
tão ferozes quanto impotentes.

Limar palavras é limar 
o ser das coisas
até o osso do ser
ou seria mais uma
camuflagem da fera
que é só parecer?

Este olhar táctil e agudo
às coisas e seus absurdos
se escreve de ouvido
se sente com o fígado
fareja e ataca
e enfim nos arrasta
às ruínas do mundo.

A fera que uiva
e saliva poesia
regurgita a carniça 
de enganos e enigmas
da vida indigesta
(e nos lançamos a ela
como se fosse ambrosia).

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