26 abril, 2024

Ave do acaso

          se você vier pro que der e vier comigo
          eu lhe prometo o sol
          se hoje o sol sair
          (G. Azevedo e R. Rocha)
 
o meu canto é mais
silêncio do que som
é mais desnorteio
que abrigo 
é ascender às sombras
do fundo do abismo
mínima melodia
ritmo incerto
desarmonia
 
mas se você vier 
comigo
vou te levar ao limiar
entre o chão e o mar, o mar 
e o ar, entrelugar 
onde o eu e o tu se entrelaçam
a noite se faz dia claro
o canto se perde do tempo
e em ondas de sonho flutuam
inefáveis naves do acaso

24 abril, 2024

Preciso

Bem ou mal, cantar
eu sei, ou não.
Preciso saber?
Preciso
é aprender tocar
fogo em tudo
que seja preciso:
tocar o foda-se.




16 abril, 2024

Ultimato

Pobres modernos
perdidos no impasse das palavras
a cada poema o fim da linha 
cada passo a um passo do abismo.
Do silêncio do livro
o poeta grita
à multidão de surdos:
          o mundo está moribundo
          o sentido é absurdo
          o buraco não tem fundo
          se eu me chamasse Raimundo...
A solução seria esta rima
do branco da página
com o niilismo da vida?

Pobres modernos
poemas tão belos
mas ermos, enfermos
fragmentos de fina ironia
labirintos em volta do vácuo
ecos sem voz de fato
sombras de nenhuma Ideia.
          Mais um gole e se acabou
          palavras não dizem mais nada
          absintos de Rimbaud.

Pobres modernos:
          este vai ser mesmo o último
          não há motivo pra mais
          tudo já foi dito
          quem ainda lê versos?
Amanhã o poeta se trai
e mais um poema se inscreve
na vida que se esvai.

O engenheiro onírico

Quando eu era menino, adorava brincar de carrinho.  Então, construía estradas, pontes, estacionamentos, postos,  calçadas e ruas, tudo muito...