Não derramemos falsas lágrimas pela primeira vez que desapareceram no frio espiritual da cidade para perambularem invisíveis por ruas e praças.
Nem choremos agora seu segundo desaparecimento, quando o frio da madrugada petrificou-lhes os corpos supérfluos.
Não caiam de nós lágrimas hipócritas pelos caídos da urbe, bagaço há muito esquecido.
Choremos por nós, os bem nascidos e criados para a dignidade cidadã de funcionar como narcisos frios consumidos por balcões e vitrines, corpos dentados hábeis e adaptáveis às funções que nos honram, mecânicas almas vivas(?) esquecidas da dor do desaparecimento dos desamparados, peças impassíveis da máquina abstrata de cifras que mastiga suores e cospe um bagaço de corpos invisíveis.
Choremos por nós, úteis e visíveis (e visíveis porque úteis), incapazes de nos compadecermos pelos desaparecidos que definham incógnitos nos labirintos das cidades.
Choremos por nós, desaparecidos de nós mesmos nos labirintos da utilidade.