27 janeiro, 2017

A natureza da poesia

A poesia sempre foi uma coisa suja, das que se misturam com o pior que há. A poesia de hoje não está nos livros, purificada por rigores estéticos, regrada pela erudição e chancelada pela autoridade dos intelectuais e da academia.

A poesia de hoje é a música pop, a canção, samba, blues, rock, sertanejo, funk. Os poetas e sua poesia se sujam de massa e mercado. Sua poesia é feita de música e letra rudimentares, movida à fama e dinheiro.

É neste pântano da poesia que surge, de vez em quando, a luz de uma canção selvagem, um poeta sombrio que nos ilumina.



01 janeiro, 2017

Nosotros

Multidões,
vagam sós pelas redes, ruas,
mercados, shoppings, rodovias...
Carregam o desejo infinito de mais, sempre mais.
A vida se esvai

e a multidão, que não sabe de si,
se entrega ao trabalho incessante
de seus corpos contagiados pela devoção
da devoração do mundo
e de si mesmos.

Os zumbis perdem partes de si
perdem os seus, a alma e o mundo
e não sentem dor.
Perdem a beleza, derretem, despencam de si
e não se sentem feios
nem belos.
Perdem o prumo, o sentido, a lembrança
e não sentem o nada
imenso que os habita.

Autômatos perfeitos,
os zumbis não sentem o mal
nem o bem,
nem a solidão que se expande na noite
sem lua e estrelas de seu espírito ausente.

Não sentem nada
a não ser o desejo infinito de devorar(-se),
de gastar(-se) mais
e mais

O engenheiro onírico

Quando eu era menino, adorava brincar de carrinho.  Então, construía estradas, pontes, estacionamentos, postos,  calçadas e ruas, tudo muito...