29 agosto, 2024

súplica

alguém
me dê esperança
me livre do coiso
me acenda o riso
me ascenda a alma
me percorra o corpo
um frenesi de energia
um transbordar de alegria
que há muito não ri

alguém
um líder um profeta um sábio
uma bruxa um anjo um pássaro
um totem um presságio (a flor
do poeta nascida no asfalto)
algo ou alguém   o que for
me mostre o estreito caminho
me revele o improvável porvir
que não caia no abismo ao fim

e quando vier a mim
dádiva   graça   benesse
me transcenda me atravesse
e contagie toda a gente

e que este tempo besta
este temporal de perrengues
pragas selos tristes trombetas
vá pro diabo que o carregue

25 agosto, 2024

clima

de fim de festa
fim de mundo    um dilúvio
de fumaça
despenca de rios voadores
(e nos afoga no ar)
céu cerrado
tórridas serrarias
soja e gado
fogo e cinzas
o mato cinza
a cidade cinza
a vida cinza
a hora cinza

e este chão árido
doente
sob o sol pálido
inclemente



O engenheiro onírico

Quando eu era menino, adorava brincar de carrinho.  Então, construía estradas, pontes, estacionamentos, postos,  calçadas e ruas, tudo muito...