31 maio, 2024

Dias dançantes

              Vem, me dê a mão
              A gente agora já não tinha medo
              (Chico Buarque)

Quando havia utopia
o mundo era escuro
mas o sol nascia no futuro.

O mundo era muito
desigual e bruto e falar
temerário
mas havia a esperança de um dia
se acordarem (e rimarem) os contrários.

A música era alegre
com um pingo de tristeza
ou seria triste
com lampejos de alegria?

Eu era menino e pouco
da vida eu sabia
sei que a TV me ninava
toda noite com João e Maria
quando havia (ainda) utopia.

 


 

13 maio, 2024

Cerco

Olho para cima e um pastor furioso

cospe o Evangelho ao pecador comunista

ateu, macumbeiro, gay, feminista...


Olho para baixo e a Terra se esboroa 

em monturos de lixo e nuvens de fuligem 

devorada pela fábrica de mercadorias.


Olho à direita e se arreganham caninos fascistas

e se entoam as ladainhas do empreendedorismo 

e os mantras sagrados do livre mercado.


Olho à esquerda e não vejo nada, nada imagino

minha cabeça avoada fincou, enfim, os pés no chão 

e cercou-se da realidade


(minha cabeça perdeu

o descaminho dos sonhos, perdeu

sua sanidade).

 


10 maio, 2024

efêmera flor

o que sobra de ti
      se derrama
            se esparrama
                  lava e lama

o que sobra de ti
      são os porres

o porre dos bares

o porre de um filme
      uma canção 
            a arte que for

o porre de um pôr
      do sol entre os prédios
 
e o porre total
      da porra do amor








O engenheiro onírico

Quando eu era menino, adorava brincar de carrinho.  Então, construía estradas, pontes, estacionamentos, postos,  calçadas e ruas, tudo muito...