símio à solta
os mais baixos instintos
o espírito linchador
baixa nas massas
os vencedores e perdedores da meritocracia cristã
ondas de medo frustração raiva e ressentimento
hordas brancas gozam em delírio
o espetáculo do circo de horrores
a paz policial
as togas fascistas
o prende e humilha da mídia
a convulsão moralista do pastor
o rebanho fanático tangido ao abismo
bíblias cospem balas
deus é amor
27 março, 2018
21 março, 2018
Nobre & vagabundos: A aliança secreta dos escravos
Por Franco Átila
O capitalismo oscila entre o capital e o trabalho (burguesia e operariado), polos opostos de um mesmo sistema social e psíquico. O trabalho é a substância do valor. A opressão capitalista não é a do capital contra o trabalho, mas se exerce por meio do trabalho. O trabalho não é libertador e sim opressor. Neste ponto, finalmente o novo marxismo da crítica do valor concorda com os artistas e sua revolta contra a instrumentalização do homem provocada pelo trabalho. Este não dignifica ninguém, e sim coisifica as pessoas.
No capitalismo, o trabalho é uma mercadoria. É também a dimensão mais fundamental da pessoa. Decorre daí que as pessoas se tornam principalmente mercadorias. As outras dimensões humanas (afetivas, cognitivas, espirituais, comunicativas etc) se tornam apêndices do trabalho. Apêndices, portanto, do capital, uma vez que o trabalho é a substância do valor/capital.
Burguesia e operariado, capital e trabalho estão em disputa no capitalismo. Mas também estão ligados umbilicalmente. São polos de um mesmo sistema, pois um não existe sem o outro e a luta do trabalho contra o capital jamais levaria à emancipação, muito pelo contrário: esta luta impulsiona e democratiza o capital, introjetando-o em cada poro da vida humana.
Por trás do ódio mortal que trabalhadores e burgueses nutrem um pelo outro, há uma aliança secreta entre eles. E esta aliança é o trabalho, o culto ao trabalho que dignifica o homem. Este culto ao trabalho oculta a adoração ao valor/dinheiro. Os operários não questionam o valor, que se deva trabalhar em troca de salário e poder de consumo (não questionam sua condição de mercadoria). Pedem apenas que este salário seja maior (sua sua mercadoria valha mais), que a burguesia não seja tão avara e reparta um pouco de seu lucro.
Esta aliança secreta entre trabalhadores e burguesia, unidos pelo amor que ambos nutrem pelo trabalho/valor, o prazer e o orgulho que eles sentem (ou dizem sentir) em submeter seus corpos e mentes ao trabalho exaustivo do dia a dia, esta aliança em torno da autoflagelação que significa o trabalho revela, de fato, o que são: escravos.
Mas são um tipo de escravos muito especial, bem diferente dos prisioneiros da antiguidade e dos negros americanos. Estes foram escravos forçados, involuntários. O burguês e o operário trabalham duro de bom grado. Dizem até que trabalhando imitam Deus: mais que digno, o trabalho é sagrado. Se o trabalho é sagrado e se este é a substância do valor, então, por dedução, o novo deus da modernidade é o Capital. E e burguês e o trabalhador são seus escravos voluntários.
É contra esse gozo masoquista, contra a escravidão introjetada pelo capital na psique de cada um, que o espírito do novo nobre se levanta. E ele se orgulha de amar o ócio na mesma medida em que sente nojo pelo amor ao trabalho, nojo da sacralização do trabalho que une o burguês e o operário, escravos voluntários do capital. O nobre despreza o escravo.
20 março, 2018
Nobres & vagabundos: os novo nobres
Por Franco Átila
Nietzsche é um filósofo reacionário, não importa o quão vanguardista ele seja. O que mais seria, senão reaça, quem defende a aristocracia como regime político ideal?
Mas há um jeito de salvar Nietzsche, não para ele (que certamente riria de tal presunção), mas para nós. Ele odiava o escravo, o espírito de cordeiro que se manifestava no cristão e no democrata burguês (uma extensão do cristão). Por isto ele recusava a ideia de uma democracia burguesa, que seria apenas um governo de escravos.
Nisto, ele acertou em cheio, assim como os roqueiros brasileiros. A democracia representativa, sua igualdade formal, suas leis e instituições, seu ideal de cidadania e a mitologia do estado de direito nada mais são que a face política da escravidão capitalista. Desejar a democracia e, na democracia, querer o conforto “civilizado” da vida classe média é querer ser escravo, como todos queremos.
Um projeto para a emancipação do capitalismo seria, não a retomada reacionária de um regime aristocrático, como Nietzsche queria, mas a recuperação, para cada indivíduo, de uma certa nobreza de caráter.
A sociedade emancipada do capitalismo exigiria uma revolução antropológica que extirparia os afetos submissos do escravo (trabalhador, gerente, rentista, proprietário) que nos habita, para colocar, em seu lugar, os afetos altivos do nobre: o orgulho e a generosidade, o autogoverno de si, o amor ao ócio, o ódio do trabalho e, principalmente, o desprezo pelo escravo. Desprezo, não por um escravo fora de nós, por um povo ou grupo social que deveria ou mereceria ser escravizado, mas pelo escravo interior, submisso voluntário à toda sorte de tiranos: padres e pastores, democracia de massas, capital.
Numa sociedade emancipada do capitalismo, o exercício da nobreza não seria para manter os privilégios de uma elite opressora, como nas aristocracias do passado. Mesmo porque a sociedade emancipada seria desprovida de classes e castas, composta em sua totalidade por homens e mulheres nobres e iguais. A luta pelo triunfo da nobreza se daria principalmente no espaço íntimo da psique, se expandindo para o fora social. A nobreza pessoal se afirmaria como recusa à qualquer submissão, seja a uma pessoa, a determinados grupos sociais ou a senhores abstratos e impessoais, como a técnica e o capital.
O nobre deve ter orgulho de sua liberdade radical, mas também deve ser capaz de identificar falsas liberdades e combatê-las com ferocidade. No capitalismo tardio, por exemplo, os neoliberais e os ditos libertários acreditam-se pessoas de mentes livres por lutarem contra o leviatã estatal. Advogam que, ao contrário do estado, o mercado proporciona o exercício pleno da liberdade. Em suas ilusões, trocam um senhor ruim, o estado, por outro pior ainda, o mercado, que é a expressão mais direta do capital e suas coerções impessoais. Neoliberais, liberais e libertários têm espírito de escravos e não sabem: acreditam-se livres. A escravidão inconsciente é a mais eficaz que há. E a mais perigosa também.
18 março, 2018
Nobres & vagabundos: o pesadelo dos artistas
Por Franco Átila
Embora a arte tenha permanecido, em grande parte, independente do mundo capitalista, como universo e como fazer estéticos, ela não está imune à expansão do capital a todas as esferas da vida. Na verdade, desde a invenção da imprensa (desde os primórdios do capitalismo, portanto) o capital tenta se apropriar da arte como mercadoria.
E o primeiro artista pop é ninguém menos que o Deus cristão. A reprodutibilidade da Bíblia impressa preludia a mercantilização da arte, que mais tarde os frankfurtianos vão chamar de indústria cultural.
Na esteira da narrativa bíblica, o romance será, por muito tempo, o epicentro desta crescente tensão entre o mundo “fictício” da arte e o mundo “real” da mercadoria, numa luta em que o este último tenta adestrar as forças selvagens daquele, absorvendo o fazer afetivo do artista no trabalho instrumental do burguês. O estatuto do romance oscila entre a obra de arte e a mercadoria, o da escrita, entre o ofício e a profissão e o do escritor, entre o artista e o profissional.
A partir do século XX, com a invenção das mídias elétricas (rádio, cinema, TV), a tensão entre arte e mercadoria se intensifica, com a última avançando constantemente no reino sagrado da primeira. Para o mundo do capital, a arte deve a ser produzida em massa e para as massas e seu objetivo principal é o lucro. A obra se torna mercadoria e o universo das arte num ramo de negócios, a indústria cultural.
Na passagem do século XX para o XXI, finalmente a mercadoria triunfa e, com raras exceções, a produção e a fruição estética é mais um negócio do capitalismo. Os próprios artistas passam a falar a linguagem dos pequenos burgueses contemporâneos, autointitulando-se empreendedores, inovadores, profissionais eficientes etc. Ou então vestem a máscara de trabalhadores, reivindicando para seu ofício o status de profissão regulamentada.
Finalmente, no século XXI, arte e vida não mais estão separadas. Mas, ao contrário da utopia sonhada pelos artistas do século XIX e de boa parte do séc. XX, não foi a vida que se tornou estética, com a arte derrotando o capital. O que aconteceu foi o contrário: a vida instrumentalizada no capitalismo absorveu a esfera estética e a transformou em mais um negócio, entre tantos.
A arte se tornou entretenimento. A última esfera da vida humana que ainda resistia às coerções do capital, finalmente caiu. O pesadelo dos artistas se tornou realidade.
15 março, 2018
Nobres & vagabundos: o sonho dos artistas
Por Franco Átila
A união da arte com a vida é um sonho acalentado pelo artista moderno. A civilização burguesa tende a expandir o capitalismo a todas as esferas da vida: tudo e todos se tornam mercadorias e só tem importância o que pode ser mensurado como valor de troca: saberes, pessoas, coisas, seres vivos, terras…
Durante muito tempo, a arte (e os artistas) escaparam da absorção capitalista, pelo menos em parte. Aos artistas foi permitida uma vida sem trabalho, típica dos nobres e vagabundos, e neles se tolerou a loucura e a embriaguez.
O preço desta tolerância foi a separação entre arte e vida. Se o artista desfruta de uma liberdade moral que a pessoa comum não tem, sua atividade (a arte) deve ser claramente delimitada da vida em sociedade: uma coisa é a arte (ficção, artifício, imaginação), outra é a vida real.
O quadro é a expressão acabada desta separação. No seu interior circula o universo estético do pintor, teatro imaginário delimitado pela geometria retangular moldura. Fora dela, o mundo real. Se ficção e realidade se influenciam mutuamente, não deve restar dúvidas de que há claro limite entre eles.
Nas sociedades anteriores aos capitalismo esta separação, ou nao existia, ou não tinha a precisão geográfica da moldura. Em muitas culturas pré-capitalistas não havia nem mesmo uma palavra que se aproximasse do que entendemos por arte: um mundo e um fazer estéticos separado do mundo e fazer ordinários da vida real.
Os artistas da civilização burguesa ficaram livres do trabalho - fazer convertido em mercadoria, voltada para a produção de mais mercadorias que se tornam, por sua vez, valor de troca. Em contrapartida se apartaram do mundo e levam, enquanto artistas, uma vida marginal, fora da sociedade, produzindo objetos inúteis, do ponto de vista do valor de troca: pinturas, esculturas, músicas, poemas, romances, teatro.
O sonho dos artistas é a reintegração da vida na arte ou, por outras palavras, o fim da arte. Afinal, numa vida vivida esteticamente não haveria necessidade de haver uma esfera da ficção e um fazer artístico separados da vida ordinária. Mas isto demandaria também o fim do capitalismo, pois o fazer instrumental voltado para o capital (o trabalho) é incompatível com uma vida em que a atividade humana se confunde com o fazer estético. Certamente haveria pessoas mais propensas e especializadas no que chamamos de arte, mas sua posição e função sociais seriam distintas do papel de louco embriagado que o artista exerce no capitalismo.
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