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Mostrando postagens de janeiro, 2024

Precipitação

Pra que tanta angústia insone ansiedade? Esse medo de chuva... Olha as árvores dançando ao vento da chuva que vem secando ao sol da chuva que passou. Versão alternativa: Pra que tanta angústia insone ansiedade? Esse medo de chuva... Olha as árvores dançando ao vento do temporal que vem secando ao sol depois do mau tempo que passou.

Qual sentido?

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círculo virtuoso?                     O                       vicioso? ou  

A fazenda de trevas

ou: O abismo de Narciso A exigência de ser amado é a maior das pretensões (Nietzsche)  Ah, se uma rês pastou em sua fazenda, gostou do pasto e depois se afasta! Mesmo que não deixe de amá-lo, a simples diminuição do amor (ele faz contas com o amor) ou o interesse por outras pastagens lhe é insuportável. Enquanto está entre as suas cercas, pastando em seus campos, a rês vale muito pouco para ele. Mas se ela ousa fugir para experimentar novas pastagens, é como se tornasse um Deus ou Demônio muito maior que ele, que se carcome por dentro. De ciúme. De inveja da rês alada que é feliz sem o seu pasto. De inveja dos outros fazendeiros e de seus pastos fartos. De raiva de si mesmo e da pouca sustância de seu pasto magro.  A rês é terrível: não lhe gosta, como pode pastar feliz longe de suas terras? Uma rês mal agradecida, malvada. Ele quer que ela se sinta infeliz longe de sua fazenda e volte ao cativeiro, ele quer a tristeza do que lhe escapou às mãos. E a rês, mesmo longe, lhe quer bem, ain

Microparaísos no inferno

Guerras guerras guerras Estou cansado de saber das guerras Quero apenas contemplar as guelras Dos peixes lentos na lagoa calma E as garras Afiadas dos gatos Guardadas No macio das patas

cega revolta

extrair até o osso do suor humano horas e horas nas salas nas ruas olhos cansados nas telas braços exaustos nas máquinas por pão e água e migalhas de entretenimento carnes e almas gritam aflitas em vez de chutarem o bezerro de ouro e reinventarem a tribo comum procuram bodes expiatórios e engrossam as fileiras fascistas  

Seção de Condicionamento Límbico

ao Eduardo companheiro de limbo   Oito horas numa sala com ar condicionado olhando para uma tela: sistemas, processos, planilhas... Ó pão nosso de cada dia! Ó cálice que não se afasta! E a alma condicionada geme em silêncio: amém!   Oito horas numa cela não é para minha natureza seria para a condição humana de alguém?

pai-poesia

meu pai nunca precisou fazer poesia ele (se) faz do dia após dia seu firme compasso de vida poesia sem letra nem melancolia

poesia

grafia das minhas aluações da alma fragmentações explícitas do meu eu baldio exposição dos fios desencapados de dentro bálsamo precário pr'esse coração sem jeito único ofício concreto que tenho

pai

meu pai meu contrário (como eu queria ser) inteiro cabeça e pés no chão do dia

Uma cama entre dois turbilhões

Para a Zezé Tempos tumultuosos lá fora dores, lutas, labutas presságios de fim de mundo Aqui dentro o coração revolto um poeta de cabeça fraca Amanhece chovendo manso sinto o doce odor da sua respiração misturado ao suave suor noturno de sua pele atlética A bagunça dos lençõis e cobertas mal oculta a harmonia da cena e a força do seu sono ressoando luz contra as sombras do mundo e meu coração soturno