Ofícios são gratificantes, há evolução, maturidade, legado... O poeta não evolui, mesmo que cresça poeticamente, não acumula nada, não incorpora nada em si, nada para si nada para ninguém. Seu movimento furioso e voluptuoso conduz ao ponto zero de onde a vida partiu. A herança do poeta não é o conhecimento, só uma sucessão de fugacidades que talvez cintilem aos olhos de alguém na cidade. Fecham-se as páginas e ele (poeta, poema, livro) morre para sempre... até a próxima abertura, novo nascimento do nada. O poeta gira em falso, é um perpétuo começo absoluto, criança eterna. Humano no ponto mais fundo do ser humano, onde não se suporta mais ser o puro esvaecer, soldado raso, tábula rasa, vaga superfície do existir, onda que mal emerge e já torna a mar. Talvez por isso busque o sagrado, ilude-se revestindo seu ritmo de religações do espírito. No fundo o poeta sabe que sua voz e suas canções apenas pulsam a passagem entre o caos e o nada, o tempo e seu esmaecimento, o movimento da v