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Mostrando postagens de junho, 2023

Ócio moderno

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Por que transformar as areias do mar num clube ao ar livre? Por que a mata virgem se desnuda em fuga nos fins de semana? Por que velhas cidades são parques temáticos anestesia de arcaico? Por que a canção  que toca o coração se entoca no streaming? Por que o prazer se apraz agora prezando prazos? Por que todo tempo à vista ou a prazo tem pressa e preço?  

putaria

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 o cio virou negócio ócio virou negócio oh! céus! virastes negócios!

Sísifo

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Ofícios são gratificantes, há evolução, maturidade, legado... O poeta não  evolui, mesmo que cresça  poeticamente, não acumula nada, não incorpora nada em si, nada para si nada para ninguém. Seu movimento furioso e voluptuoso conduz ao ponto zero  de onde a vida partiu. A herança do poeta não é o conhecimento, só uma sucessão de fugacidades que talvez cintilem aos olhos de alguém na cidade. Fecham-se as páginas e ele  (poeta, poema, livro) morre para sempre... até a próxima abertura,  novo nascimento do nada. O poeta gira em falso, é um perpétuo começo absoluto, criança eterna. Humano no ponto mais fundo do ser humano, onde não se suporta mais ser o puro esvaecer, soldado raso, tábula rasa, vaga  superfície do existir, onda que mal emerge e já torna a mar. Talvez por isso busque o sagrado, ilude-se revestindo seu ritmo de religações do espírito. No fundo o poeta sabe  que sua voz e suas canções apenas pulsam a passagem entre o caos e o nada, o tempo e seu esmaecimento, o movimento da v

Lugar comum

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madrugada  a tv está calada  não se fala mais nada  na sala   na casa fechada  as frutas sobre o balcão  esperam ser guardadas  prazeres funcionários  postos sobre a mesa  uma pizza calabresa   e um copo de cerveja  amanhã é o trabalho  a vida funcionando  o murmúrio da cidade  a vida    uma cilada  a rotina é o caralho  embaralho noites e dias  em barulhos e silêncios  cegos-surdos se lançando  num caos de letras caladas  mais um copo e mais outro  até curar esta angústia  e sua filosofia  barata de cozinha Paul Cézanne,  Still Life with Skull

O tio

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    Ao tio Zé Gomes (in memoriam) Figos no tacho, fervem nuvens na tarde escura de Morrinhos. O tio falastrão quase não fala, perdido entre as cobertas puídas da cama puída no quarto quase vazio.      Os tios     não eram eternos? As rachaduras do casebre em ruínas, o olhar perdido do tio não me conhece mais. O silêncio, o silêncio, uma nuvem carregada de silêncio se abraça ao aroma doce de figo      Os tios     não eram eternos e despenca um mundo de água (de infância).