Quase velho
Sempre foi velho desde criança contemplando adultos dentro do mundo emaranhados em seus afazeres, deveres, amores corpos inteiros no fluxo confuso do mundo. Olhava-os com espanto e reverência, sem saber que os olhava das margens se entregando pela metade ao fluir tormentoso do rio como crianças apavoradas que se agarram às margens e sonham as aventuras do mergulho. Para a criança o rio é a fonte a refletir seu inocente e cruel Narciso o rio apenas um instrumento do riso (só depois os adultos fantasiam vivências poéticas do rio da infância). Mas naquele menino havia um Narciso mais cruel, que nunca quis ir-se e o menino ficou à margem e o rio acabou em lago, espelho estanque de seu riso sempre mais amargo como o riso dos velhos mal vividos. E o homem feito vagou a vida toda imerso pela metade e a outra metade etérea (ou mineral ou putrefata, qualquer metáfora para fora da vida) presa nas margens da vida como os velhos cada vez mais etéreos, pois lhes falta corpo cada vez mais