Civitas Aurea
não há mais trabalhadores operários funcionários
apenas capital humano
os noias e vendedores ambulantes perambulam
entre os carros nos sinais fechados
empreendendo migalhas
e trocados
só há os perdedores
e os escolhidos de deus
um menino e sua mãe fuçam o lixo
nos fundos do restaurante
a xepa da feira e seus legumes quase podres
é um novo nicho de mercado
onde os empreendedores do trapo competem entre si
e com as moscas
os catadores puxam carruagens de sucata
burros de carga humanos ratos
recolhendo os restos
da civilização pós-moderna
nos meses secos os rios transpiram um odor de fezes
podres os carros arrotam carbono e arrancam
para o sem fim das cidades
sem fins
que não sejam multiplicar (num milagre
infinito) o pão monetário do deus-
dinheiro insaciável
moendo sonhos e corpos
nos algorítimos da produtividade
sempre alerta
gritam os escoteiros do mercado
só há capitais humanos
e o constante aprendizado
as madames contratam decoradoras
e domésticas para habitarem um lar clean
& cool saem do ar
condicionado de casa para o do carro
e para o ar dos shoppings e academias de ginástica
e clínicas de plástica
assistem da janela de seus SUVs
os novos empreendedores descansando nos colchões
podres
de sua calçada-lar
clean & cool
deus é amor
e temor
grita o pastor da santa prosperidade
só há os escolhidos de jesus
e os que não fizeram jus
lá fora a cidade
desaba de cansaço
e rancor
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