Socialistas

Da série "Capitalismo em agonia"

Este texto é a continuação do ensaio “Liberais, conservadores, progressistas e ativistas

Introdução 

O liberalismo, em seu espectro mais amplo, que vai da esfera econômica a dos costumes, constitui o cerne da cultura capitalista (a modernidade). É ele que mais diretamente expressa o ideário, a moral, os afetos e a visão de mundo do sujeito automático, que não é outra coisa senão o capital encarnado no indivíduo concreto.

Vimos que tanto o conservadorismo quanto o progressismo constituem forças políticas estruturais (necessárias, portanto) do capitalismo, cuja função é contrabalancear e amenizar, cada um a seu modo, as tendências espontâneas do capital, tais como a de sua progressiva concentração e centralização, a expansão da lógica da mercadoria a todas as esferas da vida e sua abstração generalizada do humano, que reduz a concretude social e individual a  formas abstratas, quantitativas, universalizantes, fragmentárias e vazias de sentido. Assim, o tempo histórico e psíquico se abstrai em tempo abstrato (do relógio), a pessoa em sujeito automático, as atividades humanas em trabalho abstrato, os bens em mercadorias etc.

Se o liberalismo fosse a única força cultural do capitalismo, a fúria desumanizadora da lógica da mercadoria seria insuportável para as pessoas e coletividades. Por isto, os contrapesos conservador e progressista são essenciais ao capital, mesmo que custe ao sistema algumas disfunções pontuais.

O conservadorismo e o progressismo representam, portanto, uma consideração ao elemento humano que, como tudo o mais no capitalismo (natureza, ciência, máquinas, estado) tende a se tornar apenas um instrumento para a reprodução infinita do capital. A prioridade continua a ser esta reprodução que, para ocorrer, necessita de alguma paz social que somente poderá ser oferecida pelos conservadores e progressistas, em sua atenção a vários aspectos da alma humana negligenciados pela lógica implacável da mercadoria, cuja expressão mais direta é o liberalismo. Vimos também que o ativismo ocupa o campo político do capitalismo em contraposição ao conservadorismo e a partir da possibilidade que o liberalismo oferece à mulher (e a outras minorias) a possibilidade de se tornar um "sujeito automático" tão bom quanto qualquer homem branco.

Mapeadas estas quatro forças políticas da modernidade, resta explorar outras duas, que se manifestam esporadicamente na história do capitalismo, mas quando o fazem tendem a levar o sistema a limites disfuncionais, embora sem conseguir romper com ele: o socialismo e o fascismo. O primeiro representa uma radicalização e uma disfunção do progressismo, e o segundo, do conservadorismo. É o progressismo distributivista levado às últimas consequências que configura o socialismo. E é o conservadorismo, com seu apego à concretude da condição humana disciplinada pela rigidez hierárquica e pela autoridade, que choca permanentemente o ovo da serpente fascista.

Antes de continuar, convém um esclarecimento conceitual. O que se denomina como socialismo neste texto é o regime social que foi implementado, por meio das revoluções comunistas do século XX, na URSS, no Leste Europeu, na China de Mao e na Cuba de Fidel. É o socialismo preconizado e defendido pelo marxismo tradicional (ou operário) que acredita que a luta de classes entre trabalhadores e elite (capital) levará à emancipação do capitalismo, por meio da vitória do trabalho sobre o capital. Acredita, portanto, que a sociedade comunista se realizará como afirmação do trabalho. Trata-se do socialismo real, como ocorreu na história recente da humanidade e não de alguma sociedade utópica, romântica ou científica, ainda irrealizada.

Socialistas

Uma sociedade em que a riqueza e a renda sejam distribuídas de forma igualitária é o sonho limítrofe dos progressistas. Nesta sociedade sem classes seriam mantidas as categorias básicas do capitalismo, como o trabalho abstrato, a mercadoria e o valor, além de seus derivados, como o dinheiro, o salário, o direito e principalmente o Estado. Este, dominado pelos produtores de fato do valor, os trabalhadores, seria responsável por um distribuição da renda e da riqueza tão eficaz que anularia uma das mais nefastas tendências espontâneas do capitalismo, a concentração e centralização do capital.

Para atingir tal intento, a presença do Estado deve ser tão forte que suas funções não se resumem mais a dar o necessário suporte ao mercado, como na social-democracia. No socialismo inaugurado pela URSS no alvorecer do século XX, o estado ocupa a posição do mercado, a propriedade privada é estatizada e se torna coletiva, e a concorrência entre capitais privados é substituída pelo plano. A intervenção estatal regulatória e, às vezes, produtiva que os progressistas preconizam, torna-se ocupação do mercado pelo estado, inclusive na esfera da produção de mercadorias.

Mas o que se produz no estado socialista ainda são mercadorias, agrícolas, industriais e minerais, utilizando-se de trabalho abstrato e mensurando-lhes o valor, não mais em função do lucro, da competição e da demanda, mas da eficiência do plano. A distribuição da riqueza e da renda, que ocorre na esfera da circulação do capital, torna-se tão absoluta que o princípio da concorrência (competição), uma das asas que move a águia capitalista, é sufocado inclusive na esfera da produção do valor, que de campo de guerra entre capitais privados se torna monopólio do planejamento estatal.

Mantidas a lógica e as categorias básicas do capitalismo, ou seja, mantendo sua racionalidade instrumental voltada para a produção de valor, e retirando-lhe apenas o princípio da competição entre capitais privados, o socialismo, na verdade, não supera o capital, apenas mutila sua natureza que deve repousar sobre dois princípios: racionalidade instrumental e competitividade. O socialismo retira da águia capitalista a asa da competição e o resultado é um voo imperfeito, com tendência à perda de dinamismo e à queda, principalmente diante de outras sociedades que mantêm, internamente, o princípio da competição.

É exatamente a competição de capitais que permite acelerar a reprodução do capital por meio da disputa entre os produtores pela eficiência produtiva, conseguida por meio da automação e racionalização do trabalho. E como o capital é uma riqueza abstrata, a aceleração de sua reprodução é sinônimo de mais quantidade de valor, o único objetivo do capitalismo. O socialismo, portanto, acaba por se mostrar um capitalismo ineficaz, pesado e lento.

Os socialistas argumentam que a máxima eficiência capitalista não é o objetivo da sociedade planificada, e sim uma distribuição igualitária da renda e da riqueza, o fim da miséria, o atendimento qualificado e universal às demandas por bens e serviços essenciais, como saúde, educação, transporte, moradia, vestuário e alimentação. Enfim, o objetivo socialista é privilegiar as pessoas (a reprodução social) e não o valor (a reprodução do capital), embora este não seja abolido. E, de fato, as sociedades socialistas entregaram o que prometeram durante sua existência. Cuba, o último estado socialista remanescente ainda entrega este bem-estar prometido. Por que, então, a maioria das pessoas que viviam nos estados socialistas, queriam mudar o sistema ou fugiam para os países capitalistas? O que fracassou no socialismo real? Qual a razão do mal-estar de suas sociedades, aparentemente maior que o mal-estar nos países de capitalismo pleno, em que vigoram a propriedade privada e a concorrência?

A racionalidade instrumental e a competição são as asas do capital e, em consequência, do sujeito automático. Esta metáfora implica que o capitalismo não “voa” sem as duas asas ou, no máximo, voa de modo imperfeito sem uma delas. A racionalidade instrumental funciona como uma base necessária ao bom funcionamento do capitalismo. É nela que se aninha a ciência, a tecnologia, o direito, a administração, enfim, os saberes e técnicas do capital. No plano individual, a racionalidade é a responsável pelo preparo técnico e cidadão do indivíduo, por sua prudência e capacidade de prospecção do futuro. Mas é a “asa” guerreira da competição entre capitais privados, inclusive entre capitais individuais (trabalhadores),  que motiva indivíduos, corporações e até estados a empenharem quase todas as suas energias na reprodução do capital. O dinamismo capitalista repousa na competição, inclusive entre trabalhadores.

Um exemplo bastante prosaico é o dinamismo do trabalhador da esfera privada quando comparado ao funcionário público, cujo emprego costuma ser protegido da ameaça de demissão. A rapidez, eficiência e agilidade do primeiro costuma superar imensamente a do segundo. Isto não ocorre porque trabalhar na iniciativa privada é mais prazeiroso, mas porque sobre o trabalhador paira a constante ameaça de redução salarial ou demissão, caso este não seja produtivo o suficiente para gerar lucro. Isto ocorre porque este trabalhador está em competição, direta ou indireta, com os outros trabalhadores, sejam os de sua empresa, os da concorrência (que pode estar do outro lado do mundo) ou os que estão fora do mercado de trabalho (desempregados ou iniciantes).

O sujeito automático é principalmente o sujeito concebido para o trabalho que, no capitalismo, é uma mercadoria que se negocia no mercado.Portanto, a constituição do sujeito automático como forma subjetiva, abstrata, universal e vazia de conteúdos acontece para que a forma mercadoria constitua a principal relação social entre os indivíduos, a partir da qual todas as outras relações sociais (familiares, comunitárias) são moldadas. Isto significa que a vida humana, no capitalismo, é posta a serviço do capital que é, ao mesmo tempo, uma grandeza abstrata quantitativa, um ser inconsciente de si e do humano e uma relação social abstrata que subordina as pessoas, coletividades e natureza ao seu objetivo de auto-reprodução ilimitada.

Que motivação teriam os indivíduos para servirem a um deus tão indiferente como o capital, cuja lógica se entranha na alma humana apenas para transformar as pessoas como instrumentos da valorização do valor, se não houvesse o dupla motivação do medo (terror) e da ambição (prazer), que impulsionasse o indivíduo a servir o capital? Na verdade, ao transformar as pessoas em capitais individuais, ou seja, em sujeitos automáticos, o medo e a ambição se tornam os “instintos naturais” (naturalizados, mais precisamente) de cada indivíduo no capitalismo. A “natureza competitiva” ou, para usar um termo nietzscheano, a “vontade de poder” do homem moderno se constitui, ao mesmo tempo, pelo medo de se rebaixar num perdedor feminilizado e pela ambição para se tornar um vitorioso viril pertencente à classe média ou mesmo à elite.

Ora, o socialismo real reforça os caracteres do sujeito cidadão e mantém a racionalidade do sujeito automático, mas amputa deste último o seu “instinto competitivo”. O resultado é um sujeito automático mutilado, letárgico e desmotivado para o trabalho. Esta desmotivação não é só individual, mas impregna todas as instituições e empresas do megaestado socialista. Mantidas as categorias básicas do capital, formais, abstratas e universalizantes, cujo resultado para o humano é sua instrumentalização para a produção de valor, somente a competição movida pelos afetos do medo e da ambição poderia motivar as pessoas a servirem uma sociedade fria e instrumental, da qual elas se sentem afastadas como seres humanos e que lhe nega uma comunidade de fato, baseada em relações sociais concretas (a única que subsiste é a familiar, mas dependente do trabalho abstrato) com as quais valha a pena se comprometer.

A sociedade socialista se torna assim, do indivíduo ao estado, passado por todas as suas instituições, um capitalismo disfuncional, cujo sujeito automático subsiste, mas mutilado dos afetos da competitividade, que são o medo e a ambição, que o impulsiona como capital individual. Em todo caso, o socialismo tal como existiu é um excelente modo de entender o próprio capitalismo, pois ao amputar a asa da competitividade, deixando subsistir apenas a racionalidade instrumental, pode-se perceber que seu intenso dinamismo e excitação, sua voracidade, vontade de poder e potência expansiva estão fundados, no plano subjetivo, em dois afetos nada abonadores: medo e ambição. Afetos que costumam derivar para o ódio, o ressentimento, o egoísmo e o narcisismo, principalmente em momentos de crise sistêmica.

Esta questão nos leva a outra, mais filosófica, que é a dos afetos humanos. Certamente o medo, a ambição, o ódio e o egoísmo são sentimentos trans-históricos e transculturais, próprios do ser humano em geral, assim como o altruísmo, a empatia e a coragem. A discussão filosófica sobre uma suposta natureza humana, que procura descobrir quais afetos são preponderantes no ser humano em geral se mostra despropositada quando analisamos os afetos do sujeito automático. O que ocorre é que cada formação social, cada cultura em particular molda a subjetividade e os afetos que a movimenta. A ambição, por exemplo, embora seja um afeto humano universal, assume um papel preponderante no capitalismo que, junto com o medo, será a mola-mestra que motiva os sujeitos a se instrumentalizarem para a reprodução capital.

Mais que se tornar preponderante, a ambição no capitalismo tem um aspecto próprio, que a difere, por exemplo, da ambição do nobre medieval. A ambição do sujeito automático está voltada para a vitória na guerra e a acumulação de riquezas, como a do nobre, mas trata-se da guerra dos mercados e da acumulação de valor, que muda completamente a natureza do domínio sobre os outros. Este deixa de ser direto, como na Idade Média, e passa a ser mediado por relações abstratas, como o trabalho e a mercadoria. Se avançarmos mais fundo no exame dessa dominação mediada pelo capital, o que se verifica é que o sujeito automático realizado em sua ambição, ou seja, vencedor (de classe média ou da elite) da guerra do mercado tem um domínio apenas relativo sobre os perdedores, pois mediado pela abstração capital. O verdadeiro domínio, no capitalismo, é abstrato e impessoal, é o exercido pelo capital sobre todos os sujeitos automáticos, sejam eles vencedores ou perdedores - daí a propriedade do adjetivo automático, pois os sujeitos no capitalismo se tornam autômatos do capital.

Voltando ao socialismo, ao amputar o espírito de competição das subjetividades este provoca uma desestruturação da subjetividade moderna, que compromete a eficiência sistêmica, tanto a nível individual quanto coletivo. Pois o sujeito automático é, de fato uma estrutura e como tal, ela se desmantela quando um elemento estrutural lhe é retirado. No socialismo, os próprios indivíduos costumam se sentir com a alma mutilada quando lhes são retiradas as pulsões competitivas e se sentem letárgicos e desmotivados como “trabalhadores revolucionários”. A solidariedade (feminilidade) abstrata do sujeito cidadão hipertrofiado em sujeito revolucionário e que se manifesta por meio da burocracia estatal é incapaz de despertar no indivíduo a genuína solidariedade concreta, própria da vivência comunitária.

Esse espírito solidário comunal, caso emergisse como relação social concreta, poderia substituir a competitividade capitalista como motivação subjetiva para desenvolver o socialismo como um regime próspero em produzir riqueza real (bens e serviços) e voltado, de fato, para o bem estar das pessoas. Mas para isto acontecer seria necessária a abolição das categorias básicas do capital, como valor, mercadoria e trabalho, bem como a refundação de uma outra subjetividade, concreta, emancipada das abstrações do sujeito automático e do sujeito cidadão e não mais determinada pelas pelas exigências do capital.

Apenas em algumas situações concretas de convívio em que a incapacidade do outro exige o cuidado e atenção solícitos, como na educação e saúde, a solidariedade abstrata do sujeito revolucionário do socialismo parece se manifestar também como solidariedade concreta, como no caso da educação e saúde. Daí o sucesso de todos os regimes socialistas em cuidar muito bem de seus aprendizes e doentes. Mas, mesmo no capitalismo pleno, desde que haja um desenvolvimento adequado do sujeito cidadão e crescimento econômico para proporcionar recursos, como no estado do bem estar social, a educação e a saúde costumam se tornar políticas públicas e universais, complementadas pela solidariedade concreta dos educadores ou cuidadores.

Se nas políticas públicas o socialismo pode ir bem, no plano da produção de mercadorias  (e, portanto, de valor) ele se mostrou um fracasso total ao eliminar a competitividade interna de suas sociedades. Sem a motivação do medo e da ambição porque os indivíduos e instituições “dariam o sangue” pelo valor? A competição entre capitais privados seleciona “naturalmente” a melhor mercadoria (o melhor valor de uso) pelo menor preço (melhor valor de troca), premiando os capitais mais eficientes, inclusive os trabalhadores, que são capitais individuais. Sem o medo de perder nem a ambição para vencer, já que todo o mais valor será distribuído igualitariamente pelo estado-total do socialismo, não há porque competir ferrenhamente pela eficiência da melhor mercadoria, com o máximo de valor de uso pelo mínimo valor de troca, e o consequente acúmulo de capital e domínio de mercado que premiaria os capitais vencedores. O resultado são mercadorias obsoletas, de baixa qualidade (pouco valor de uso) e caras (valor de troca ruim). Como o sujeito automático ainda persiste no indivíduo, este se vê como trabalhador e consumidor e, como tais, se sente um cidadão de segunda linha, principalmente como consumidor, quando compara a letargia do socialismo com o dinamismo excitante das sociedades capitalistas plenas, nas quais a competição (o medo e a ambição)  não foi amputada da subjetividade.

Sendo o sujeito automático moderno uma estrutura, ele tem também uma forma de realização, de plenitude estrutural. Ora, esta plenitude só pode ser atingida se à estrutura não faltar nada. Vimos que a forma sujeito moderno, abstrato e masculino, tem dois elementos essenciais sem os quais ela não se estrutura plenamente: a racionalidade instrumental e a competitividade. O socialismo, ao manter o sujeito automático, amputando-lhe a “asa” da competitividade, recusa-lhe a sua realização plena, que só pode se efetivar como subjetividade vencedora na guerra do mercado, seja o de trabalho ou o de negócios. Ao interditar esta potência do sujeito automático, o socialismo lhe frustra o desejo e o resultado é a profusão de indivíduos saudáveis, longevos, relativamente confortáveis e sem necessidades materiais, mas profundamente insatisfeitos consigo mesmos e com a coletividade que os engendrou. O sujeito automático quer a competição e quer vencê-la, mesmo que a realidade mostre a ele que, no capitalismo, esta luta encarniçada reserva a vitória (viril) para poucos e a derrota (feminilização) da maioria.

As sociedades socialistas se revelaram ineficientes para a produção de mercadorias e, em consequência, para a satisfação do consumo, além de proporcionar um mal-estar subjetivo decorrente da manutenção das categorias básicas do capitalismo (valor, trabalho, mercadoria) combinada com a imposição de um sujeito automático mutilado em sua competitividade e, portanto, frustrado em sua realização como subjetividade plena, por mais irracional e destrutivo que o sujeito automático seja. É como se o estado socialista treinasse um guerreiro muito poderoso e mortal, mas o impedisse de ir à guerra.

Por conta desse duplo fracasso, de ineficiência na produção de mercadorias e formação subjetiva incompleta, o socialismo produz um capitalismo manco, do qual emerge uma sociedade letárgica e irrealizada, insatisfeita consigo mesma e que necessita ser mantida sob as rédeas curtas do estado totalitário, vigilante e controlador de cada um de seus indivíduos e grupos sociais. Ideias, mobilidade, opinião, espiritualidade, comportamento... nada pode escapar aos olhos e ouvidos do estado-total, que impõe um constante controle para que o medo e a ambição que constituem o “instinto” de competição do sujeito automático continuem sufocados, em favor de um igualitarismo solidário abstrato e impessoal, imposto à sociedade pelo estado totalitário.

Este estado totalitário controlador já se prenuncia na social-democracia, em sua tentativa de domar a fúria competitiva do sujeito automático e minimizar os efeitos catastróficos da competição, que se manifestam principalmente como uma crescente desigualdade de renda e riqueza e uma tendência à miserabilidade (feminilização) da maioria da população. Mas a social-democracia mantém, ao lado do estado interventor e regulador, um mercado interno constituído de capitais particulares, que possibilita a realização das potências do sujeito automático, tanto no plano da racionalidade instrumental, quanto no da competitividade. Ao radicalizar o distributivismo da social-democracia e suprimir o mercado, o socialismo mutila o sujeito automático e se torna um capitalismo disfuncional, que só sobrevive no tempo às custas do controle férreo do totalitarismo de estado.

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