Ruído cinza

Não sei viver.
Por muito tempo
pensei ao menos
poder saber
o que é a vida.

Poemas, ensaios, reflexões solitárias,
pensamentos atabalhoados e obsessivos,
rotinas massacrantes, pequenas vaidades e vícios,
vivências incompletas, anos e anos de má prática de vida
me conduziram a uma única certeza: ninguém sabe
o que é a vida.

A vida é uma coisa... qualquer coisa.
Uma das poucas coisas que aprendi
nessa epopeia perdida
é que a vida é cinza,
noite nublada, céu de chumbo, chão lunar,
a vida... monotonia monocromática
pincelada de lágrimas.
 
Aprendi também que de vez em quando
e quase que por acaso
         (no sorriso de uma criança
         no resmungo rabugento de um velho
         numa conversa entre amigos
         na lembrança que vem
         e se vai como um raio
         no caminhar a esmo pelas calçadas
         no vento que entra pela janela
         da casa abafada
         no cachorro que se coça
         no gato que dorme
         no cheiro de café que vem da cozinha
         na nudez da amada...)
brota
no solo cinza da vida
uma flor colorida
frágil
breve
linda

linda de morrer
alegria de viver


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ultimato

Gaza - Palestina

Seção de Condicionamento Límbico